segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Noite de Poesia

Noite de Poesia na escola de Julinha, com recital, exposição e tal. Auditório com pouquíssimos alunos e pais e parentes. Poesia, como sempre, não dá ibope.


Os alunos do 8º ano (em torno de 50) haviam criado poesias, das quais seriam escolhidas 6, com premiações pela Escola.

Chego, vou ao mural, leio algumas delas, da minha filha e outras, e em todas, sentimentos de adolescentes, vagos ou não, ingênuos, sinceros, copiados, um misto de adolescentes românticos e raivosos e amorosos, gente como a gente.

Sento e aguardo.

Início: um vídeo, com umas gravuras de uma criança que se torna um velho, aquarelas, passarinhos em fios que se balançam, muito bonitinho. Acompanhando o texto e as gravuras, uma música em inglês, que não conheço, mas gostei.

Na verdade, gostei do vídeo, porém a apresentação do vídeo naquele momento foi inoportuna, era preciso gente, gente falando, conversando, adolescentes recitando, criando...

Na verdade, de novo, sei que ando insuportável, implicando com tudo, coisa de mulher chata, mas, não é bem assim, é que vídeo, vídeo, computador, eu tô cheia; caso queira, abro no Google, aquele vídeo e texto e curto aquilo no meu computador. Ali, eu queria emoção com gente ou gente com emoção, por aí.

Depois do início insosso, vem uma parte boa, violão e professores recitando poesia: ao todo 6 poesias, as vencedoras. Vi de cara que a poesia de Júlia não fora uma das escolhidas e ela chia do meu lado...que birra é essa da gente querer ganhar sempre? Eu falo isso, mas não aprendi nada de nada, porque, como ela, fico triste por ela não está entre as 6 "melhores" e lidas.

Palmas, premiação simbólica e vamos embora. Júlia chora, se sente a derrotada, aliás, como eu me sentiria.

Saímos de lá, Júlia chorando, pergunto a ela:
 - Você tá triste, né, filha?

– Tô nem aí, mas também não vou participar mais, se eu soubesse não teria vindo.

- Julinha, você tá triste, filha, eu sei só em olhar pra você...eu também tô...se eu tivesse participado eu também teria ficado triste por não terem lido a minha...

Julinha para de chorar e pergunta:
 - Mamãe, você já participou de concurso de poesia? Eu não vou participar mais...a de M. foi copiada um pedaço de uma música (em inglês) e a outra, de B., parece que foi também.

- Eh, filha, mas aí é questão de consciência. A de M. eu tenho certeza do plágio, mas a outra, não sei. A menina talvez goste de ler poesia, tenha um dom pra isso.

- Ah, mamãe, mas também eu nunca li um livro todo de poesia, eu só gosto da poesia de Cazuza, acho linda. Mamãe, Cazuza era poeta?

- Era sim, claro.

- Mas tem umas coisas dele que eu não entendo...

- Ué, Julinha, não precisa entender tudo, é só sentir...

- Mamãe, também não concordo com o que o Léo falou lá, de que todo o mundo é poeta; não é não, tem gente que não é poeta.

Largo uma risada: - Concordo, filha, acho que tem gente que não é poeta.

Já em casa, Júlia toma banho e quer dormir, parece que esquecida da noite, da poesia. Antes, lê uma adaptação de um livro, "Dom Casmurro", e fala:

– Mamãe, todo mundo diz que esse livro é ruim, mas ele é tão legal, eu tô gostando.

- Eu também gosto, filha, é muito bom...Bentinho, Capitu, muito legal.

Logo, vem e me pede pra dormir comigo. Deixo, e vejo que, quando Júlia quer dormir comigo e tão cedo, é porque algo não vai bem. Resultado da Noite de Poesia...

Tento entender o porquê de um colégio realizar esse tipo de Noite ou de Tortura, mas, em silêncio, me cutuco e vejo, cá de longe, sem ser mãe, que, também da decepção, perda, angústia e tristeza, é que nasce a poesia, ou não, afinal nem todo mundo é poeta.


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Indiana Nomma

Esta cantora daqui de Brasília é maravilhosa!!!


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O prazer da vingança, Contardo Calligaris (Folha de São Paulo, 15/10/2009)

PODE SER que, ao longo da vida, você nunca tenha sido ofendido. Mas, para a imensa maioria dos humanos, não é assim. Quando crianças, esbarramos em adultos que parecem quase sádicos, na sua incapacidade de nos escutarem e entenderem; logo depois, encontramos os "bullies" da turma do fundão da sala de aula, da praia ou da rua. E assim continua.

A vida de cada um escolhe as encruzilhadas em que sofremos mil violências morais ou físicas, grandes ou pequenas. Com elas, em regra, não ganhamos nada, a não ser que a gente acredite numa justiça divina após nossa morte: quem sofre aqui na Terra será recompensado nos céus. Também podemos nos consolar com a ideia de uma "grandeza" moral que nos seria própria, pela "generosidade" com a qual aguentamos as ofensas, esquecendo-as ou mesmo oferecendo gentilmente o outro lado do rosto.

Mas resta uma dúvida (que compartilho com Nietzsche, "Genealogia da Moral", Companhia das Letras): nossa moral aparentemente generosa e a esperança de que Deus, um dia, recompense os ofendidos e puna os ofensores talvez seja uma grande invenção coletiva, criada, justamente, para que as vítimas sejam confortadas e possam perdoar não tanto aos agressores, mas a elas mesmas, ou seja, perdoar a "covardia" da qual elas acabam se acusando, num eterno lamento por elas não terem revidado na hora.

Disse antes que, com as violências que sofremos, não ganhamos nada. Mas não é bem assim: o lamento de não ter revidado é uma das grandes fontes da ficção. Pense bem: inúmeras vezes, dias e mesmo meses a fio, depois de ter sido insultado, machucado, assaltado, empurrado real ou simbolicamente, você ficou imaginando e aprimorando, em seus detalhes, desfechos diferentes, nos quais você, na hora da ofensa, teria imediatamente resgatado sua honra e punido o agressor, deixando-o tão inerte e silencioso quanto você mesmo ainda lamenta ter ficado. Em suma, o desejo frustrado de se vingar é uma poderosa matriz narrativa, sobretudo nos devaneios privados, em nosso cinema de bolso, que fica escondido por ele ser pouco conforme com os ditados da moral dominante.

Quentin Tarantino, com "Bastardos Inglórios" (que acaba de estrear e é um de seus melhores filmes), leva esse cinema de bolso para as salas: é uma verdadeira festa de vingança, uma fantasmagoria cuja violência é alegre e libertadora.

A história contada não cola direito com os fatos da Segunda Guerra Mundial? Você acha curioso que um bando de soldados dos EUA, infiltrados na França ocupada pelos nazistas, aja como índios apaches saídos de um bangue-bangue, recolhendo os escalpos dos que conseguem matar? Ou se surpreende com o fato de que eles marquem com uma suástica na testa os poucos que eles decidem poupar?

Pois é, reconheçamos a Tarantino a mesma liberdade que nós nos permitimos em nossos devaneios de vingança.

Para o que serve essa liberdade de imaginar? Talvez as ficções e, em particular, o cinema (de bolso ou de sala) tenham algum poder de alterar a história, fazendo justiça, por exemplo. Não digo isso apenas porque, em "Bastardos Inglórios", a vingança final acontece graças a uma sala de cinema. E, é claro, sei que os devaneios, em geral, não se realizam mas também sei que eles nunca são vãos, simplesmente porque são o alimento de nosso desejo.

Um outro filme, lindíssimo, conta com uma distribuição limitada e talvez não chegue às salas do Brasil inteiro (no caso, anote o título e espere o DVD): "Deixa Ela Entrar", de Tomas Alfredson. É um filme sueco, que é apresentado como uma história de terror, e é verdade que há um vampiro no filme. Mas o meu prazer de espectador foi outro...

Acho que já contei: quando era criança, eu tinha uma pequena orquestra imaginária, que levava sempre comigo. Ela me servia para combater o tédio, sobretudo quando acompanhava meus pais em intermináveis visitas a museus. Passei bons momentos com a minha orquestra, mas confesso que teria adorado ter também outros amigos imaginários, mais eficientes na hora dos apuros. Uma vampira que gostasse de mim teria sido perfeita. Já imaginou? Alguém que saísse das sombras e arrancasse os pescoços, as cabeças e os braços dos idiotas que me azucrinavam a vida?

Pois é, "Deixa Ela Entrar" é a história de um menino que tem (ou inventa?) a amiga imaginária da qual ele precisa, para se vingar. De uma amiga assim, todos precisamos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Permaneço

Hoje
tenho todas as idades em uma
Nelas, percorro o mistério dos dias para chegar
em nenhum lugar

Não estando
Não sendo
Sou tudo e nada
em anos que se iniciam
e se findam

Volto
ao meu porto de saída
e de todas as chegadas
De cá,
lá,
busco estradas
Sigo
Retorno
e Permaneço

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

É outubro, o mês que nasci...

Nasci num mês de outubro, no cerrado do Tocantins, outrora Goiás.

O lugar, lindo, quase uma vila, divisa de Goiás-Tocantins-Bahia, com uma Serra Geral bela a fazer essa divisão de chãos que se estendem em altos e baixos num terreno arenoso e avermelhado em alguns pontos, habitada por onças e índios, num passado mais distante.

Nunca me esqueço que, desde criança, pelas estórias contadas, olhava aquela serra, que se estendia de ponta a ponta da cidade, numa espécie de louvor, admiração, felicidade e curiosidade intensa sobre o que havia por trás dali.

Como não havia como transpor aqueles morros, só sonhava.

Sonhava encontrar o que? Bem, não sabia ao certo e me vinha toda sorte de sonhos encontrar: o mar, índios, uma cidade grande, pessoas diferentes, mundos diferentes e chegava a sentir saudade de um mundo que sequer conhecia.

Até hoje tenho uma nostalgia de coisas e pessoas que nunca vi, nunca peguei, é um sentir presente na minha memória, aquela supostamente inconsciente, que reporto àquelas tardes e manhãs direcionadas a olhar e sonhar envolta pelo que me trazia a minha Serra Geral.

O fato é que, desde o meu nascimento até a adolescência, vivi naquele pedaço de cerrado, aquela vida de cidade pequena, com tudo a que tem direito uma criança: banhar em rios e córregos; pular de ponte (sem nunca ter quebrado nenhum dedo); subir em árvores; comer frutas direto do pé; andar de calcinha pelas ruas; andar a pé pelas roças pra pegar caju nos meses próprios; ir pra roça e passar 2 meses vendo mato e bicho; jogar futebol, e queimada, e vôlei; andar de bicicleta até cansar; ouvir as "rádios" da moda; ler Tex, gibis vários, depois Machado de Assis, José de Alencar e tantos outros, sem cansar, na biblioteca do Mobral; desfilar no 7 de setembro; apanhar e nunca chorar por unhar os irmãos e todo mundo; furtar dinheiro pra comprar muuuitas balinhas; ir pra missa e levar bronca do padre José; brincar de boneca no quintal de casa; ganhar um outro nome de pai (tita), sem saber o porquê; sonhar e sonhar com outros mundos, dos livros e da minha cabeça...

Assim foram os anos e outubros da minha vida naquele pedaço de mundo que carrego comigo, onde nasci, em pleno meio-dia, numa família de 5 irmãos, nas mãos de Dona Ana, minha parteira, porque, ao contrário dos meus irmãos, nasci em casa e sem médico.

Aliás, quando me entendi por gente, esse era um fato que me deixava indignada: como é que, logo eu, fui nascer em mãos de parteira? Porque no nascimento de todos os meus outros irmãos, mãe tinha ido pra cidades com suporte médico-hospitalar? Decerto que ela queria que eu morresse, fazia-me de vítima e me sentia "a discriminada".

Mãe explicava que não havia dado tempo, eu era enorme e acabou tendo que me parir em casa mesmo, mas eu não queria saber, embirrava com isso.

Hoje, quando chega outubro, de tudo e tanto a que tenho que agradecer, essa é uma das minhas maiores dívidas com a vida, ter tido esse privilégio de nascer em casa, nos braços e em mãos de parteira, de uma pessoa do povo, que, com sua sabedoria e garra, soube me "desenrolar" do cordão umbilical, literalmente, e me trazer solta pra enfrentar o mundo. Isso me fez mais forte, acho que tanto no corpo quanto na mente.
Aliás, mãe conta com orgulho, que, dos filhos, fui sempre a mais saudável. Ela diz: - Dos meus filhos, Tita foi a única que não me deu trabalho, nunca adoecia.

Acho que hoje “dou mais trabalho”, tenho meus conflitos e crises que me apequenam, mas é só puxar o gancho da memória, beber da minha fonte e voltar inteira pra mais um ano que se inicia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Tempo, Tempo, Tempo, Tempo


Por determinação superior, comecei, a partir de hoje, um tal “Curso de Desenvolvimento Gerencial”, que relutei em fazer porque sabia que viria merda, mas os ossos e as nervuras do ofício me obrigaram.

O fato é que, mesmo atrasada, lá estava eu, junto com mais uns 40 colegas, às 9h da matina de uma segundona, ouvindo o discurso de uma alegre psicóloga.

Eh, realmente, eu a achei bastante disposta e feliz pra uma segunda-feira, já que se eu pudesse saltar esse dia da semana... aliás, esse foi um dos motivos pelos quais cheguei de cara amarrada, mas, passados uns cinco minutos, já estava disciplinada, igual a um rato de laboratório, atenta ao discurso e slides da mulher.

Na verdade, quando vi os slides, já impliquei de cara, porque já estava predisposta a não gostar do curso, ou seja, totalmente “armada” por ser “obrigada” a fazer, e, como precisava de mais alguma coisa pra implicar de vez, resolvi eleger os slides como meus inimigos da vez.

Da mulher, alegre, baixinha, simpática, não dava pra não gostar assim de cara, principalmente porque, como não terminei o curso de psicologia, tenho uma propensão a proteger os psicólogos e esculachar o mundo jurídico, como uma forma de combater minha frustração “ao inverso”, embora também não entenda essa neura, mas é mais ou menos isso e dispenso maiores explicações...

Bom, o fato é que dez minutos foram suficientes para segurar a minha ânsia de vômito e esculachar, silenciosamente, todos os psicólogos (nascidos ou por nascer) que se metem a ministrar palestras de auto-ajuda para babacas se lambuzarem com as idiotices pregadas por eles (sempre atreladas à “teoria comportamental”), como se fossem pastores ordenhando ovelhas ou fiéis ou cientistas testando ratos ou robôs.

Coisas do tipo: vocês têm que se programar para organizar o seu tempo, gerenciar seu tempo, cronometrar seu tempo, pensem na produtividade, equilíbrio, o tempo para melhorar sua vida, você precisa de tempo, o tempo é o único recurso...tempo, tempo, tempo, e não era Caetano!

E mais: vocês têm que aprender andar na linha, como numa estrada de ferro! Bom, desde que eu era um feto, já sabia que quem anda em linha é trem e, a essa altura, querem me “desaprender”? O pior é que era segunda, e eu, sonolenta, não tinha forças para polemizar.

O curso continua e, agora, a merda, ops!, os slides:

● Administração do Tempo
● Para onde foi o Tempo?
● Motivação
● Como você usa seu Tempo?
● Fazendo um balanço do seu Tempo
● Ditado: “Não importa a direção em que o vento sopra, o importante é como eu acerto as velas”, hahahahahaha, essa ganhou...

Pensa que terminou? Não! Ainda veio a estória da garrafinha (a lição era pra ensinar a nós, marmanjos e marmanjas, quem são as GRANDES PEDRAS E O RESTO das nossas vidas); e a estória do homem que parou para amolar o machado e conseguiu a façanha(?) de cortar mais madeira que o mais jovem.

Bom, é preciso um parágrafo pra falar dessa última estória “pedagógica”: primeiro que falar em cortar madeira já me deu uma comichão; segundo que o idiota do velho não parou pra descansar (como eu esperava!) mas pra ter forças e ACABAR DE VEZ COM A FLORESTA!

Por fim, as brincadeirinhas: reunião em grupo para que se programasse o tempo de 36 horas para 8 horas, nem vou contar porque é bobagem demais; depois, jogou no alto um monte de balas e caiu na burrice de “me” perguntar porque eu não havia pego: - Ora, porque eu não quis! Gelo total e prossegue: - Quem pegou uma, levante a mão; Quem pegou duas, levante a mão; - Você pegou sete? Nossa! Vocês sabe aproveitar as oportunidades! E um colega colega disse: - Guloso! Outro perguntou: - Quantos filhos tem?

Essa última pergunta foi ótima, porque alguém correr pra pegar 7 balas àquela hora da manhã ou tem 7 filhos, ou, digo eu, acabou de fazer redução de estômago e quer comer todos os doces que vê pela frente, ou, então, é aquele servidor, aquele servidor do Judiciário que quer abraçar todas as oportunidades, ainda que sejam balas às cinco da manhã.

Já no final, a agora ex-simpática psicóloga pergunta: - Vocês gostaram do curso? [...] E, de mim, vocês gostaram de mim? [...] Vocês ainda vão me agradecer muito! Muitas pessoas transformaram suas vidas depois de uma semana de curso!

Sem comentários.

Bom, quase meio-dia, findo o primeiro dia de uma série de cinco para que eu aprenda com alguém como gerenciar a minha vida, a dos outros e o meu tempo (ah, tá!). E haja princípio da hierarquia para segurar meus ossos!