terça-feira, 18 de agosto de 2009

A CAMISETA

Ainda há pouco li uma matéria que noticiava a morte de uma moça em Fortaleza que pagara 500,00, um laptop e camiseta nova para um ambulante matá-la porque se encontrava bastante endividada.

Talvez a camiseta fosse a questão de somenos importância no contexto todo da história, entretanto, convenhamos: as pessoas têm o direito de se matar ou de pedirem alguém para "fazer o serviço".
Da mesma forma, não deixa de ser tristíssimo encontrar alguém disposto a fazer "um serviço" desse nível, embora seja comum em alguns recantos desse Brasil.

Mas, o que me chamou a atenção mesmo foi o pedido da camiseta nova.

Eu cogito que talvez o matador não quisesse ficar sujo por medo de ser pego pela polícia, por nojo, por não querer carregar o "peso" daquela morte estampada na sua roupa e perto do seu coração, a lembrar-lhe o ato insano que cometera, mas poderia levar uma camiseta sua... não, ele não quis, ele queria uma camiseta dada pela "suicida".

Porém, como terá sido a negociação? - Bom, eu faço o serviço pelo preço "x", mas quero uma camiseta nova. - Tudo bem, a camiseta é o de menos, compro já, já.

E lá se foi a moça, 38 na bolsa, a morte se avizinhando, entra na loja, compra a camiseta: - Qual a cor? - Azul. - Tá boa esta aqui? - Deixa ver, tá, tá.

Saem da loja, pegam a estrada, rumo à casa de praia, morte programada na varanda, frente ao mar, abre os braços, tiro dado, serviço cumprido.

O ambulante troca de camiseta, de fato, alguns respingos de sangue haviam ficado na anterior, deixa o revólver, vai para a parada, pega o primeiro ônibus, segue olhando o mar e, involuntariamente, lembra-se do rosto da moça, sacode a cabeça e abre o laptop.