segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
A Marca Humana, Philip Roth
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
sábado, 14 de novembro de 2009
Homenagem
e ele me arrebata
Entrando sem temores
num mundo com esquinas e curvas
E onde delícia tem sabores outros
Além de vinhos e queijos e doces.
Sim,
Com ele me deleito.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Noite de Poesia
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
O prazer da vingança, Contardo Calligaris (Folha de São Paulo, 15/10/2009)
A vida de cada um escolhe as encruzilhadas em que sofremos mil violências morais ou físicas, grandes ou pequenas. Com elas, em regra, não ganhamos nada, a não ser que a gente acredite numa justiça divina após nossa morte: quem sofre aqui na Terra será recompensado nos céus. Também podemos nos consolar com a ideia de uma "grandeza" moral que nos seria própria, pela "generosidade" com a qual aguentamos as ofensas, esquecendo-as ou mesmo oferecendo gentilmente o outro lado do rosto.
Mas resta uma dúvida (que compartilho com Nietzsche, "Genealogia da Moral", Companhia das Letras): nossa moral aparentemente generosa e a esperança de que Deus, um dia, recompense os ofendidos e puna os ofensores talvez seja uma grande invenção coletiva, criada, justamente, para que as vítimas sejam confortadas e possam perdoar não tanto aos agressores, mas a elas mesmas, ou seja, perdoar a "covardia" da qual elas acabam se acusando, num eterno lamento por elas não terem revidado na hora.
Disse antes que, com as violências que sofremos, não ganhamos nada. Mas não é bem assim: o lamento de não ter revidado é uma das grandes fontes da ficção. Pense bem: inúmeras vezes, dias e mesmo meses a fio, depois de ter sido insultado, machucado, assaltado, empurrado real ou simbolicamente, você ficou imaginando e aprimorando, em seus detalhes, desfechos diferentes, nos quais você, na hora da ofensa, teria imediatamente resgatado sua honra e punido o agressor, deixando-o tão inerte e silencioso quanto você mesmo ainda lamenta ter ficado. Em suma, o desejo frustrado de se vingar é uma poderosa matriz narrativa, sobretudo nos devaneios privados, em nosso cinema de bolso, que fica escondido por ele ser pouco conforme com os ditados da moral dominante.
Quentin Tarantino, com "Bastardos Inglórios" (que acaba de estrear e é um de seus melhores filmes), leva esse cinema de bolso para as salas: é uma verdadeira festa de vingança, uma fantasmagoria cuja violência é alegre e libertadora.
A história contada não cola direito com os fatos da Segunda Guerra Mundial? Você acha curioso que um bando de soldados dos EUA, infiltrados na França ocupada pelos nazistas, aja como índios apaches saídos de um bangue-bangue, recolhendo os escalpos dos que conseguem matar? Ou se surpreende com o fato de que eles marquem com uma suástica na testa os poucos que eles decidem poupar?
Pois é, reconheçamos a Tarantino a mesma liberdade que nós nos permitimos em nossos devaneios de vingança.
Para o que serve essa liberdade de imaginar? Talvez as ficções e, em particular, o cinema (de bolso ou de sala) tenham algum poder de alterar a história, fazendo justiça, por exemplo. Não digo isso apenas porque, em "Bastardos Inglórios", a vingança final acontece graças a uma sala de cinema. E, é claro, sei que os devaneios, em geral, não se realizam mas também sei que eles nunca são vãos, simplesmente porque são o alimento de nosso desejo.
Um outro filme, lindíssimo, conta com uma distribuição limitada e talvez não chegue às salas do Brasil inteiro (no caso, anote o título e espere o DVD): "Deixa Ela Entrar", de Tomas Alfredson. É um filme sueco, que é apresentado como uma história de terror, e é verdade que há um vampiro no filme. Mas o meu prazer de espectador foi outro...
Acho que já contei: quando era criança, eu tinha uma pequena orquestra imaginária, que levava sempre comigo. Ela me servia para combater o tédio, sobretudo quando acompanhava meus pais em intermináveis visitas a museus. Passei bons momentos com a minha orquestra, mas confesso que teria adorado ter também outros amigos imaginários, mais eficientes na hora dos apuros. Uma vampira que gostasse de mim teria sido perfeita. Já imaginou? Alguém que saísse das sombras e arrancasse os pescoços, as cabeças e os braços dos idiotas que me azucrinavam a vida?
Pois é, "Deixa Ela Entrar" é a história de um menino que tem (ou inventa?) a amiga imaginária da qual ele precisa, para se vingar. De uma amiga assim, todos precisamos.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Permaneço
tenho todas as idades em uma
Nelas, percorro o mistério dos dias para chegar
em nenhum lugar
Não estando
Não sendo
Sou tudo e nada
em anos que se iniciam
e se findam
Volto
ao meu porto de saída
e de todas as chegadas
De cá,
lá,
busco estradas
Sigo
Retorno
e Permaneço
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
É outubro, o mês que nasci...
O lugar, lindo, quase uma vila, divisa de Goiás-Tocantins-Bahia, com uma Serra Geral bela a fazer essa divisão de chãos que se estendem em altos e baixos num terreno arenoso e avermelhado em alguns pontos, habitada por onças e índios, num passado mais distante.
Nunca me esqueço que, desde criança, pelas estórias contadas, olhava aquela serra, que se estendia de ponta a ponta da cidade, numa espécie de louvor, admiração, felicidade e curiosidade intensa sobre o que havia por trás dali.
Como não havia como transpor aqueles morros, só sonhava.
Sonhava encontrar o que? Bem, não sabia ao certo e me vinha toda sorte de sonhos encontrar: o mar, índios, uma cidade grande, pessoas diferentes, mundos diferentes e chegava a sentir saudade de um mundo que sequer conhecia.
Até hoje tenho uma nostalgia de coisas e pessoas que nunca vi, nunca peguei, é um sentir presente na minha memória, aquela supostamente inconsciente, que reporto àquelas tardes e manhãs direcionadas a olhar e sonhar envolta pelo que me trazia a minha Serra Geral.
O fato é que, desde o meu nascimento até a adolescência, vivi naquele pedaço de cerrado, aquela vida de cidade pequena, com tudo a que tem direito uma criança: banhar em rios e córregos; pular de ponte (sem nunca ter quebrado nenhum dedo); subir em árvores; comer frutas direto do pé; andar de calcinha pelas ruas; andar a pé pelas roças pra pegar caju nos meses próprios; ir pra roça e passar 2 meses vendo mato e bicho; jogar futebol, e queimada, e vôlei; andar de bicicleta até cansar; ouvir as "rádios" da moda; ler Tex, gibis vários, depois Machado de Assis, José de Alencar e tantos outros, sem cansar, na biblioteca do Mobral; desfilar no 7 de setembro; apanhar e nunca chorar por unhar os irmãos e todo mundo; furtar dinheiro pra comprar muuuitas balinhas; ir pra missa e levar bronca do padre José; brincar de boneca no quintal de casa; ganhar um outro nome de pai (tita), sem saber o porquê; sonhar e sonhar com outros mundos, dos livros e da minha cabeça...
Assim foram os anos e outubros da minha vida naquele pedaço de mundo que carrego comigo, onde nasci, em pleno meio-dia, numa família de 5 irmãos, nas mãos de Dona Ana, minha parteira, porque, ao contrário dos meus irmãos, nasci em casa e sem médico.
Aliás, quando me entendi por gente, esse era um fato que me deixava indignada: como é que, logo eu, fui nascer em mãos de parteira? Porque no nascimento de todos os meus outros irmãos, mãe tinha ido pra cidades com suporte médico-hospitalar? Decerto que ela queria que eu morresse, fazia-me de vítima e me sentia "a discriminada".
Mãe explicava que não havia dado tempo, eu era enorme e acabou tendo que me parir em casa mesmo, mas eu não queria saber, embirrava com isso.
Hoje, quando chega outubro, de tudo e tanto a que tenho que agradecer, essa é uma das minhas maiores dívidas com a vida, ter tido esse privilégio de nascer em casa, nos braços e em mãos de parteira, de uma pessoa do povo, que, com sua sabedoria e garra, soube me "desenrolar" do cordão umbilical, literalmente, e me trazer solta pra enfrentar o mundo. Isso me fez mais forte, acho que tanto no corpo quanto na mente.
Acho que hoje “dou mais trabalho”, tenho meus conflitos e crises que me apequenam, mas é só puxar o gancho da memória, beber da minha fonte e voltar inteira pra mais um ano que se inicia.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Por determinação superior, comecei, a partir de hoje, um tal “Curso de Desenvolvimento Gerencial”, que relutei em fazer porque sabia que viria merda, mas os ossos e as nervuras do ofício me obrigaram.
O fato é que, mesmo atrasada, lá estava eu, junto com mais uns 40 colegas, às 9h da matina de uma segundona, ouvindo o discurso de uma alegre psicóloga.
Eh, realmente, eu a achei bastante disposta e feliz pra uma segunda-feira, já que se eu pudesse saltar esse dia da semana... aliás, esse foi um dos motivos pelos quais cheguei de cara amarrada, mas, passados uns cinco minutos, já estava disciplinada, igual a um rato de laboratório, atenta ao discurso e slides da mulher.
Na verdade, quando vi os slides, já impliquei de cara, porque já estava predisposta a não gostar do curso, ou seja, totalmente “armada” por ser “obrigada” a fazer, e, como precisava de mais alguma coisa pra implicar de vez, resolvi eleger os slides como meus inimigos da vez.
Da mulher, alegre, baixinha, simpática, não dava pra não gostar assim de cara, principalmente porque, como não terminei o curso de psicologia, tenho uma propensão a proteger os psicólogos e esculachar o mundo jurídico, como uma forma de combater minha frustração “ao inverso”, embora também não entenda essa neura, mas é mais ou menos isso e dispenso maiores explicações...
Bom, o fato é que dez minutos foram suficientes para segurar a minha ânsia de vômito e esculachar, silenciosamente, todos os psicólogos (nascidos ou por nascer) que se metem a ministrar palestras de auto-ajuda para babacas se lambuzarem com as idiotices pregadas por eles (sempre atreladas à “teoria comportamental”), como se fossem pastores ordenhando ovelhas ou fiéis ou cientistas testando ratos ou robôs.
Coisas do tipo: vocês têm que se programar para organizar o seu tempo, gerenciar seu tempo, cronometrar seu tempo, pensem na produtividade, equilíbrio, o tempo para melhorar sua vida, você precisa de tempo, o tempo é o único recurso...tempo, tempo, tempo, e não era Caetano!
E mais: vocês têm que aprender andar na linha, como numa estrada de ferro! Bom, desde que eu era um feto, já sabia que quem anda em linha é trem e, a essa altura, querem me “desaprender”? O pior é que era segunda, e eu, sonolenta, não tinha forças para polemizar.
O curso continua e, agora, a merda, ops!, os slides:
● Administração do Tempo
● Para onde foi o Tempo?
● Motivação
● Como você usa seu Tempo?
● Fazendo um balanço do seu Tempo
● Ditado: “Não importa a direção em que o vento sopra, o importante é como eu acerto as velas”, hahahahahaha, essa ganhou...
Pensa que terminou? Não! Ainda veio a estória da garrafinha (a lição era pra ensinar a nós, marmanjos e marmanjas, quem são as GRANDES PEDRAS E O RESTO das nossas vidas); e a estória do homem que parou para amolar o machado e conseguiu a façanha(?) de cortar mais madeira que o mais jovem.
Bom, é preciso um parágrafo pra falar dessa última estória “pedagógica”: primeiro que falar em cortar madeira já me deu uma comichão; segundo que o idiota do velho não parou pra descansar (como eu esperava!) mas pra ter forças e ACABAR DE VEZ COM A FLORESTA!
Por fim, as brincadeirinhas: reunião em grupo para que se programasse o tempo de 36 horas para 8 horas, nem vou contar porque é bobagem demais; depois, jogou no alto um monte de balas e caiu na burrice de “me” perguntar porque eu não havia pego: - Ora, porque eu não quis! Gelo total e prossegue: - Quem pegou uma, levante a mão; Quem pegou duas, levante a mão; - Você pegou sete? Nossa! Vocês sabe aproveitar as oportunidades! E um colega colega disse: - Guloso! Outro perguntou: - Quantos filhos tem?
Essa última pergunta foi ótima, porque alguém correr pra pegar 7 balas àquela hora da manhã ou tem 7 filhos, ou, digo eu, acabou de fazer redução de estômago e quer comer todos os doces que vê pela frente, ou, então, é aquele servidor, aquele servidor do Judiciário que quer abraçar todas as oportunidades, ainda que sejam balas às cinco da manhã.
Já no final, a agora ex-simpática psicóloga pergunta: - Vocês gostaram do curso? [...] E, de mim, vocês gostaram de mim? [...] Vocês ainda vão me agradecer muito! Muitas pessoas transformaram suas vidas depois de uma semana de curso!
Sem comentários.
Bom, quase meio-dia, findo o primeiro dia de uma série de cinco para que eu aprenda com alguém como gerenciar a minha vida, a dos outros e o meu tempo (ah, tá!). E haja princípio da hierarquia para segurar meus ossos!
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Joel
Absolutamente e sem Bandeira.
!Coisas perdidas
Mundos deixados
Pessoas transformadas
Saudades insistentes
Fossos latentes!
Como aquele menino do farol
O menino a quem olhei nos olhos,
perguntei o nome: - Joel.
...E a quem não dei um real.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Cássia Eller e Maria Gadu
Ela era a minha cantora, aquela que me emocionava só de cantar “atirei o pau no gato”.
“Com você...meu mundo ficaria completo” foi memorável e me marcou por tudo, desde o F. que conheci lá e que, por azar do destino, me impediu de ir conversar com ela, já que havíamos, eu e minhas amigas, preparado tudo para ir até o seu camarim: era a primeira vez que pagava o mico de tentar conversar, digamos assim, com meu ídolo. Não fui, o F. me roubou e perdi a minha foto com Cássia Eller e aquela que seria a minha única e última oportunidade de estar com ela.
Pois é, quando em dezembro/2001, passando final de ano na casa da minha mãe, ela me chama: - Ei, Tita, aquela cantora que você gosta morreu, tá na televisão.
Levanto, achando que minha mãe não saberia de quem se tratava, afinal ela é daquelas que no máximo ouve padre Fábio de Melo, e, fatalmente, estaria enganada, corro pra TV, mas, de fato, Cássia Eller havia morrido.
Sofri, não acreditava: como que eu ficaria sem Cássia Eller?
Nunca mais a ouvi sem aquele pesar n’alma, é sempre um nó, um aperto que me dá, saudade incerta, voz sem dono... Queria-a viva, com a possibilidade de novas músicas, novos shows.
Tempo passa e agora me aparece Maria Gadu: amor à primeira vista, voz linda, repertório bom, uma pérola!
Novas emoções a moverem o mundo na música e na vida!
Longa vida a Maria Gadu!
http://www.youtube.com/watch?v=q5u0uPHDYhg&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=_A6Cs2WTRdY&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=bD0YGQTBBgM&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Ph-pLZEVWGs&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=ACGw3Jj_1Jc&feature=related
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Teresa e outros anjos
Tento por meia hora e nada. Passa um anjo (sempre aparecem anjos na minha vida nos momentos mais críticos) que me tira do sufoco. Pergunto, constrangida, quanto devo a ele, cuja resposta é "nada", "que é isso?", afinal, existe algum pagamento para alguém que a resgata num lugar, àquela hora, como se fosse seu amigo há milênios?
Além de tudo, o anjo me leva até minha amiga, também um outro anjo em forma de gente, a Tê, Teresa, Terezinha ("E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas" - Manuel Bandeira).
Tanta gente boa no mundo, meu Deus!
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
O homem, o cachorro, o jegue e a gravata
Inquieta, sigo-o ate vê-lo sumir lá na esquina da farmácia e o dito continuava com a corda no pescoço e fico a me indagar: o que faz um homem, num calor que lembra Palmas e Cuiabá, andar de gravata amarrada no pescoço, ainda que num mero passeio noturno com seu cachorro faceiro?
Só pode ser doido, pensei. Só pode ser doido, pensei de novo.
Sem resposta, precisei pensar de novo: talvez o doido não tivesse tido tempo pra tirar a gravata ou se esqueceu ou talvez fosse friorento e, nesse frio de 38 graus acima de zero, ele tivesse sentindo calor ou talvez ele não quisesse se passar por um mero carregador de jegues e se ornamentou pra parecer que levava um cachorro.
Maybe! E eu com isso? O cachorro tava feliz, o homem aparentava felicidade, todo elegante sendo puxado por uma gravata... e eu? Ah!!!!!!! Eu que estava precisando de um nó nos meus neurônios para (des)compreender o homem, o cachorro, o jegue e ela, a gravata.
MARINA SILVA no El País (matéria retirada do UOL)
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
O "quase" amor
Então tô aqui, de novo, pra falar do amor, do quase amor de Luís e Luísa. É brincadeira? Nãããããããããão!
Joana conheceu João ou Luís conheceu Luísa, tanto faz, os nomes não importam e nem é preciso dizer como se conheceram nem porque nem quando.
O fato é que se encontraram. Ele foi buscá-la no aeroporto, ela tímida, havia procurado roupas e roupas antes da viagem, nenhuma havia ficado bonita e marcante o suficiente para um primeiro encontro, mas como não poderia ir pelada, teve que escolher aquela, se achando horrível, afinal não gostava de se maquiar, a cara tava limpa, mas resolveu colocar um salto 15 pra impressionar, 1,85m, ele não poderia ficar indiferente, mas o susto dela foi maior, se deparou com um homem alto, louro, lindo, charmoso, quase um George Clooney.
Aproximaram-se um do outro, beijo na boca de leve; ela, querendo morrer de tanta vergonha; ele, seguro, leonino, nem aí, leve e solto, abraçando-a, ela suando e se desfalecendo. Estava prestes a ter uma daquelas típicas crises de pânico, mas ele a socorreu, sugeriu um café ali mesmo, ela aliviada, pediu uma água, olhava pra ele: - Perfeição demais! Dizia pra si mesma. –
Não queria aquilo! Nunca gostara de homens tão belos e perfeitos. Sempre ficara com um pé atrás.
Conversaram, falaram da ansiedade, do desejo, de se conhecerem melhor, mais beijos, menos conversas e ela se apavorou. Pediu licença pra ir ao banheiro. De lá, com apenas a bolsa a tiracolo, passagem de volta na mão, foi pra livraria, comprou uma revista, sentou-se num canto, escondeu a cara como se estivesse lendo ou como se fosse um bandido, à espera da partida.
Nunca mais voltou, nunca mais o viu, ficara ele com o seu melhor: a mala com suas melhores roupas e a sua pose de libriana dramática e neurótica, como uma noiva em fuga.
Ainda hoje, ele a intriga. Luísa o segue, de forma sorrateira, sabe da sua vida, da sua solteirice incansável, suas viagens, dos seus mundos. Ele vive; ela, escondida, perscruta e sonha.
sábado, 12 de setembro de 2009
Ensinamento, Adélia Prado
ENSINAMENTO
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente,
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Por onde andará Belchior, ops! Tita?
Acho que esse era o propósito deles.
Quanto ao Belchior, fiquei a me perguntar se sumira por pura jogada de marketing ou para curtir um sossego, sem qualquer intenção de alarde.
Óbvio que não sei qual das alternativas é a correta, mas que fiquei com inveja dele, isso fiquei, independentemente de saber sua real intenção.
Sempre tive uma vontade secreta (?) de dar uma sumida! Partir, temporariamente, para algum lugar em que pudesse ficar sem eira nem beira, somente comigo mesma.
Na verdade, é possível ficar consigo mesmo sem precisar viajar pra algum outro lugar, mas isso é meio difícil, há sempre os compromissos do dia-a-dia no lugar em que se estabelece como pessoa física, cidadã com direitos e deveres, quer dizer, sempre, com muito mais deveres.
Lembro-me que numa recente viagem que fiz para Itacaré, decidida em horas, tive um gostinho do que pode ser um sumiço assim.
Dois dias sem atender a telefonemas e sem dar notícias a quem quer que seja. Indo pra praia sozinha, curtindo a noite sozinha, comendo e dormindo sozinha, totalmente isolada da vida que levo normalmente.
No terceiro dia, Madalena arrependida ou consciência pesada, me dei uma cutucada e informei à minha filha e ao resto do meu povo, incluindo namorado, onde eu estava.
Parece que, daí em diante, perdeu um pouco a graça, porque passaram (minha rede Globo particular) a me ligar, saber que dia eu voltaria, se eu estava bem, se estava ruim, essas bobagens, quer dizer, adeus sossego.
Depois disso, me entreguei por minha culpa, minha tão grande culpa: terceiro dia e já comecei a me enturmar, fiz amigos e, adeus isolamento, já era de novo pessoa física e cidadã, agora de Itacaré e com um pouco mais de direitos que o habitual.
Sexto dia, retorno pra casa e tudo continuava igual..., nada me restara dos dois dias "sumida".
domingo, 30 de agosto de 2009
Marina, Rosa e o Amor
Minha filha viajou com o pai, minhas primas que vieram passar o final de semana comigo acabaram de sair e me bateu uma saudade de tudo e de todos.
Durmo, acordo e chego aqui na internet.
Assisto à filiação de Marina Silva ao PV e, choro com ela, quando cita Guimarães Rosa (para referir-se à sua saída do PT):
“Será que você seria capaz de se esquecer de mim, e, assim mesmo, depois e depois, sem saber, sem querer, continuar gostando? Como é que a gente sabe?” (Primeiras Estórias – Nenhum, nenhuma)
Esqueço a política e só penso no amor, mas fazer política bem não é amar e amar mais?
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Divórcio: "raspas e restos me interessam"
Lembro-me que tentei dissuadi-la daquela opinião, esclarecendo sobre aqueles papos de casal em crise: melhor assim que viver brigando, o amor acabou, a vida continua, muitos dos seus coleguinhas são filhos de pais separados e são felizes e dá-lhe convencimentos...
Não adiantou muito. Àquela época, criança que era, restavam muitas dúvidas na sua cabeça, talvez não persistam mais (a vida gira!), mas isso já não me importa nem um pouco, tenho outras preocupações e sei que tentei e tento fazer o melhor, óbvio, que nem sempre consigo. Se erro ou não, há Nietzsche para me salvar.
Além do que, essa mania de filho achar que mãe é heroína é muito chato, somos o que somos, seres humanos com qualidades e defeitos e Freud e Deus e tarjas pretas tão aí pra qualquer crise pior.
O fato é que lá se vão 7, 8 anos (?) que me separei, perdi até a conta, Júlia já é quase uma moça e, hoje, quando perguntam a ela (imbecis existem!) sobre a possibilidade de viver com o pai e a mãe juntos na mesma casa, ela descarta e já não se reconhece como filha de um casal, mas de pessoas que se amaram e a procriaram, mas, finda a relação, tocaram seus rumos, cada um para o lado escolhido.
De todo modo, tive a sorte de, tempos passados, divórcio realizado, novo casamento de Júnior e a paz foi selada.
Já há muito tempo, tenho uma relação de paz e respeito com meu ex, afinal, quando se tem filho e se odeia barracos e brigas, faz-se necessário engolir alguns sapos, tocar em frente e viver da melhor forma com ex, mulher de ex e filha de ex: de todos é à Biba a quem dedico a minha maior porção de amor (é adorável e irmã da minha filha: como não amar?).
Atualmente, meu ex se hospeda de mala e cuia na minha casa quando vem à Brasília, traz a outra filha, conversamos, bebemos juntos, ainda que mantida uma certa formalidade, e temos a melhor relação possível das “sobras” de um casamento que gerou o meu tesouro, minha filha, a "nossa" filha.
É verdade que, vez em quando, atritos existem, namorados que não aceitam, já que um ex em casa, “dormindo sob o mesmo teto? Claro que isso não dá!”. Aí se explica, conversa e se percebe que uma relação construída com amor, ainda que finito, não pode incluir desamor, há que se ter o mínimo de harmonia e amor fraterno.
Ah! E tem umas piadinhas: - Hum, então vocês são amigos? Ainda deve ter alguma coisa entre vocês! Bom, mas os idiotas e as idiotices a gente deixa de lado.
O fato é que estou tratando desse assunto porque, hoje, Júnior está hospedado aqui em casa, com todas as “obrigações” advindas da hospedagem de um amigo: buscar, levar, conversar, trocar ideias.
Enfim: filha feliz; eu, nem triste nem alegre, apenas eu mesma, tentando a sabedoria de viver com harmonia. E só!
O amor vem primeiro
Como ele é filiado ao DEM, havia indicado, além do meu blog , o do Reinaldo Azevedo, mas lá em casa o amor vem primeiro que a política, então, tio Rei, não é que ele preferiu o meu ao seu? hahahaha
terça-feira, 25 de agosto de 2009
EIS-ME AQUI!
Sempre me indagava o que a mantinha tão firme na vida, diante da iminência da morte que a rodeava. O que espera alguém com essa idade,
A bem da verdade, não que nós, por óbvio, desde que nascemos, com a mais tenra idade, não estejamos sujeitos a morrer a qualquer momento, mas uma pessoa com quase 100 anos, encontra-se num beco sem saída.
E o que faz alguém prosseguir? Com 100 ou com qualquer idade?
A meu ver, a grandiosidade (ou seria pequenez?) do ser humano começa aí, em continuar a viver, de forma lúdica, os dias que lhe são dados, a despeito de tudo.
Acho que a gente vive "brincando" de viver. Tudo fazemos em torno disso: se somos pobres, precisamos brigar, ir atrás do pão para comer; se deixamos de ser pobres, achamos outras necessidades pra nos justificarmos; se somos poetas, queremos mais poesia; se somos intelectuais, queremos ficar mais sábios; se somos órfãos queremos pais; se não somos pais, queremos filhos; se somos de Brasília, queremos concursos; se somos Sarney, queremos poder; enfim, vamos buscando “lutas” para nos justificarmos na vida.
Entretanto, há aqueles que não querem nada e partem cedo ou tarde ou quando querem: esses são mistérios que não queremos entender ou se quiséssemos mesmo iríamos atrás da verdade e lá ficaríamos.
Eh! porque se o bicho ser humano fosse mais desgarrado, diante da primeira inquietude dele ou do Senado, ele poria um fim, e não é pra encontrar um paraíso como os terroristas, mas para deixar de lado eternamente essa angústia da incerteza do nada.
Continuo a brincar de viver. E tudo fica mais simples e mais bonito. É só não ter resposta, não perguntar, continuar brincando...com ou 1 ou 100 anos.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
ENTREGA
durmo vinte e quatro horas para retê-la.
Nos sonhos, ela é minha,
tal qual agora, à luz do dia,
porque não vou saltar dias
e continuar perdendo vida
Sem me achar.
Eu correrei
um andar feliz
Que me carregue pra perto do mundo
De mim,
E da vida que me puxa.
Eu vou...
domingo, 23 de agosto de 2009
Amy W. e Chico B.
http://www.youtube.com/watch?v=Ll7UFxqI2pM
http://www.youtube.com/watch?v=LzbOJsgCoh0
http://www.youtube.com/watch?v=w1evzhSast8
...............
http://www.youtube.com/watch?v=TPfifSapSv4
http://www.youtube.com/watch?v=22gfX2CS-YE
http://www.youtube.com/watch?v=LOwQLarDhvI
sábado, 22 de agosto de 2009
DECIFRA-ME ou DEVORO-TE
Deixando as filigranas jurídicas de lado, também vi opiniões diversas, favoráveis e contrárias, de médicos, professores universitários, jornalistas e até de Antônio Fagundes, que disse numa matéria da Folha que iria “peitar” a lei, porque precisava encenar uma peça que havia um fumante em cena (e a liberdade de expressão no teatro, ambiente fechado, como fica?).
Bom, já fui não fumante, fumante, não fumante, enfim, algumas idas e vindas no vício, atualmente, fumante, e, ainda assim, absolutamente favorável à limitação do uso de cigarro a ambientes abertos. Ninguém tem que ser obrigado a aguentar o fumacê dos outros.
Aliás, pudéssemos escolher, nós não fumaríamos em nenhum lugar, deixaríamos o cigarro para sempre, porque é horrível a escravização da vontade e o cigarro aniquila a nossa vontade, aliás, qualquer vício, mas dizem os especialistas que o cigarro ainda é o vício mais difícil de se combater, diante da fidelidade do fumante.
Na verdade, comecei a fumar já velha, à época da faculdade de Psicologia, quando já tinha meus 23 anos, normal que era o uso de cigarro naquele ambiente, até fazia parte do status dos futuros psicólogos, embora já tivesse dados uns tragos eventuais com uma prima, fumante desde sempre e feliz, sem nenhuma pretensão de deixar o vício.
Mas, começar a fumar mesmo foi à época da Psicologia e o vício me pegou.
Nos últimos 3 anos de vício, já parei 1 mês, 2 meses, 1 semana, dias, um dia e por aí vai, sempre parando no domingo e retornando na 2ª à noite.
Dito todo o calvário, sei e sinto os prazeres do cigarro, mas que é um saco ser viciada, isso é!
Primeiro, a questão da saúde, irrefutável, principalmente com meu currículo de 3 pneumonias, bronquites, o chamado “pulmão fraco” desde pequena e ainda fumante; depois, tem a questão da vaidade: adoro óleos, cremes no corpo, ficar cheirosa e isso é impossível sendo fumante, tanto é difícil que tomo milhares de banho ao dia, escovo os dentes milhares de vezes ao dia, lavo o cabelo todos os dias e o cheiro (?) continua lá, firme e forte.
Além disso, tenho Júlia que, felizmente, detesta cigarro e vive me perguntando: - Mamãe, você quer virar caveira?
Ah, sem falar na minha outra família, eu, a única Janis e fumante, imagine o que eu aguento!
De todo modo, andava tranquila porque, como meu ex-namorado era fumante, a gente se suportava nos cheiros e era maravilhoso fumarmos na varanda juntos, conversando, bebendo, namorando, era tudo de bom!
Mas, agora sozinha, bem mais solitária, voltei a ter, paradoxalmente, a firme convicção de ter que, definitivamente, deixar os cigarros antes dos 40 porque eu quero e devo, sem necessitar da intervenção do Estado.
PS: O título foi sugestão de Júlia, minha filha sabida!
21 de agosto de 2009: lideranças e outros impróperios
Homenagem feita, retorno pra casa, e, infelizmente, tive a infelicidade de visitar um dos pub's da capital. Triste ideia.
Entrei, paguei 15 reais (meia) pela entrada, música péssima, resolvo ir embora e o drama começa.
Como a fila estava enorme, passei pelo fumódromo, para dar um tempo para pagar e me mandar, afinal, de música chata me bastava a seleção estilo Léo Jaime e Cia que aguentei na "minha" festa.
Engano total, no Brasil ou em Brasília não é tão simples assim. Fila grande, em torno de umas 10 pessoas entram na minha frente, "furando" a fila descaradamente. Como cidadã que sou e talvez mais velha, não me permito suportar determinadas situações: disse, em alto e bom tom, para animar todos os macacos passivos, que aquilo era impossível de acontecer num país que se pretendesse uma democracia, blá, blá, blá... Insatisfeitos, os ditos cujos, me ofenderam da melhor ou pior forma possível, desde "mal amada" a outros impróperios que o meu blog ou eu mesma me proíbo de mencionar.
Na fila que se prolongava, apenas um homem jovem, mulato (não por acaso, acho eu), levantou a voz e se dirigiu ao segurança, exigindo respeito à fila, o qual quase espancado, voltou ao seu lugar, reclamando e esbravejando, sem poder nada mais fazer: o segurança não lhe deu a menor atenção.
Eu também, diante da situação, exigi, no mínimo, respeito e uma melhor observação quanto à fila que se formava para que não houvesse uma confusão daquelas, já que as pessoas não se orientavam da f0rma que deveriam.
De novo, recebi os piores insultos, mas ameacei, briguei, xinguei, chamei todos de Sarney's, uma vez que, pelo visto, na primeira oportunidade que tivessem, fariam tal qual aqueles que criticavam.
Riram, gargalharam de mim, porque, segundo alguns deles, votaram no Lula (ou seja, estão isentos de qualquer crítica): -Então tá me comparando a Sarney, sua mal amada? Só porque tô na sua frente? Quer pagar na minha frente, tá apressadinha, eu deixo você passar...
Brasília, agosto de 2009, me aquietei, paguei minha conta, voltei pra casa e, triste, não me reconheço como cidadã, eu sou apenas mais uma que briga e não é ouvida, quase um mercadante, afora a liderança que não entreguei, não recebi e não recuei.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Rosa
passam ondas abarcando
três mulheres
Eu
Nenhuma delas.
Afasto-me
quieta
e percorro aquela casa de taipa no sertão
fonte seca
e um menino.
O velho já lá atrás de mim.
Corro.
Quero alcançar
apenas aquela árvore seca
com raízes
arrastadas
enrugadas
no chão seco que abarca todos nós.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
A meio do caminho...
“A meio do caminho desta vida
Achei-me a errar por uma selva escura,
Longe da boa via, então perdida”. (Dante)
Com que propósito vim mesmo para Brasília? O que faço aqui? Porque continuar aqui?
Tenho feito, repetidamente, essas indagações nos últimos dias. Não encontro uma resposta sensata como eu gostaria, já que somente o meu coração responde e coração é coisa com que se brinca e se vive e se alegra.
Mas não tô pra alegrias nem pra brincadeiras, tô mais pra tristeza e seriedade, no singular!
É que eu tô me tornando chata mesmo e tudo tem ficado meio cinza ou azul demais pro meu gosto nos últimos dias.
É casa que não se vende, dinheiro que não chega, apartamento que não te quer, filha que quer ficar, namorado que não quer voltar e dá-lhe agosto.
Não tô pra choramingas, aliás, tô, mas acho que quero decisões e como é que libriana decide quando não quer decidir se quando quer decidir já é tão difícil, imagine quando sequer sabe se quer decidir. Entendeu? Eu também não.
Bom, quando me mudei pra Brasília, tudo tava lindo, até me perder infinitamente na Asa Norte de 1h às 4h da manhã, rodando igual uma barata nessas tais de – esqueci o nome – seguir desconhecido que me trouxe sã e salva pra casa, e eu, dia seguinte, rua de novo, perdida de novo e me achando a própria Janis reencarnada...
Tempo passando, Niemeyer ficando velho, eu também, lá se vão quase 3 anos aqui e já não sei se fico, se vou, se não fico, se não vou. Coisa de lamparina, ops, libriana.
Hoje folhei o edital de remoção, tenho a possibilidade de me mandar de novo, porque, como meu emprego é federal, passados 3 anos de “enjôo” de lugares, dá-lhe, mudamos de novo e o circo continua.
Pensei: porque não João Pessoa, cidade pequena, arborizada, barata? Floripa? Ilhéus (ah, porque Itacaré é um pulo!), Salvador de novo? Palmas de novo e, até, arg, Goiânia de novo?
Mas meu rebento teima em adorar Brasília e, como mãe quer culpar filho e filho quer culpar mãe, eximo-a desde já, porque também, buá, quero ficar.
Mas tá tudo sem andar, tudo igual como nos outros lugares. Mudamos os lugares ou mudamos nós ou não muda nada ou só somos carregados?
Antes até saía à noite sozinha, embora a prosa ruim que aguentava porque a mentalidade é a mesma: homem sai sozinho, senta sozinho numa mesa, mas é mulher fazer isso e começa bobo a agir como bobo mesmo, mas até aguentava e não arredava pé, mas agora cansei, sobretudo cansei de não ter amigos (ou ter pouquíssimos), ando muito só, às vezes é ótimo, mas às vezes não é tão bom assim. E os programas? cinema, pub, ver a lua daqui de casa, um show (de novo Zeca Baleiro?), ver a ponte JK kkkkk...(só 500 milhões de reais?) e dá-lhe Brasília com o que redime tudo e todos: o CÉU.
PAUSA.
Minha filha se aproximou, “curiando”, leu e disse: - credo, mamãe, como você tá depressiva!
Bom, não é que estou mesmo? Paremos. Vamos deixar Brasília ou me deixar um pouco de lado. Por enquanto, fico.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
A CAMISETA
Ainda há pouco li uma matéria que noticiava a morte de uma moça em Fortaleza que pagara 500,00, um laptop e camiseta nova para um ambulante matá-la porque se encontrava bastante endividada.
Talvez a camiseta fosse a questão de somenos importância no contexto todo da história, entretanto, convenhamos: as pessoas têm o direito de se matar ou de pedirem alguém para "fazer o serviço".
Da mesma forma, não deixa de ser tristíssimo encontrar alguém disposto a fazer "um serviço" desse nível, embora seja comum em alguns recantos desse Brasil.
Mas, o que me chamou a atenção mesmo foi o pedido da camiseta nova.
Eu cogito que talvez o matador não quisesse ficar sujo por medo de ser pego pela polícia, por nojo, por não querer carregar o "peso" daquela morte estampada na sua roupa e perto do seu coração, a lembrar-lhe o ato insano que cometera, mas poderia levar uma camiseta sua... não, ele não quis, ele queria uma camiseta dada pela "suicida".
Porém, como terá sido a negociação? - Bom, eu faço o serviço pelo preço "x", mas quero uma camiseta nova. - Tudo bem, a camiseta é o de menos, compro já, já.
E lá se foi a moça, 38 na bolsa, a morte se avizinhando, entra na loja, compra a camiseta: - Qual a cor? - Azul. - Tá boa esta aqui? - Deixa ver, tá, tá.
Saem da loja, pegam a estrada, rumo à casa de praia, morte programada na varanda, frente ao mar, abre os braços, tiro dado, serviço cumprido.
O ambulante troca de camiseta, de fato, alguns respingos de sangue haviam ficado na anterior, deixa o revólver, vai para a parada, pega o primeiro ônibus, segue olhando o mar e, involuntariamente, lembra-se do rosto da moça, sacode a cabeça e abre o laptop.
sábado, 15 de agosto de 2009
A Arte de Recomeçar, João Pereira Coutinho (Folha, nov./2007)
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OS PESADELOS acontecem.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
DIAS DE SETEMBRO, em prosa
O fato é que agosto e setembro foram meses que me marcaram de forma muito negativa, diante de acontecimentos ruins que me aconteceram nesses meses, em épocas já distantes da minha vida, graças a Deus, mas que se reverteram posteriormente de tal modo que trouxe uma marca profunda na minha alma.
Tudo começou quando em setembro lá atrás, meu pai foi diagnosticado com um câncer incurável, que o mataria fatalmente em um ano.
Esperamos, adolescentes e crianças que éramos, os irmãos (5) e minha mãe, essa morte anunciada.
Eu me lembro que sentia uma urgência de fazer alguma coisa que pudesse deixar meu pai orgulhoso de mim, mesmo depois de morto. Não consegui, nada há que uma criança possa fazer de tão importante assim, no plano material, pelo menos na minha cabeça de criança ansiosa e angustiada, frente àquela situação.
Desisti... então comecei a rezar, fiz promessas, devidamente cumpridas e nada do nada passar...
Foi aí que a mão milagrosa do tempo (e o quê mais?) intercedeu, e meu pai, de repente, já não tinha nenhuma foice em sua cabeça, estava livre. A bem da verdade, ele nunca deixou de ser livre, porque continuou a ser ele mesmo, ainda que com todos esses prognósticos...triste mesmo ele ficou somente com a morte de sua irmã mais velha que havia sofrido muito com o vaticínio dado a ele. Coitada, ela partiu primeiro!
Hoje, quase 20 anos passados de cirurgia, acrescentadas mais duas no currículo, um acidente de carro, 75 anos, ele talvez possa ser considerado, para além de um homem de sorte, um homem marcado para viver.
Já em outro setembro da minha vida, passei pelo que hoje considero também um divisor de águas. Tive uma crise de depressão que me derrubou e me ressuscitou para a vida. Não entro em detalhes, porque ainda hoje as lembranças daqueles dias imersos em tristeza, insônia e dor não são coisas de que se fale assim, já iniciada a madrugada. Falaremos disso depois, à luz do dia, a noite sempre é soturna e maximiza as coisas.
Foram esses os dias de setembro que lá ficaram e que ainda carrego comigo...
AS HISTÓRIAS DE HELENITA
Eu, de férias, numa das viagens do meu irmão a trabalho, fui parar lá.
Cheguei ao lugar, passando por dois córregos, ainda com algumas matas virgens, mas, em outro trecho da estrada, vi, entristecida, quando o carro desceu feio numa ribanceira, um cemitério de rio que se prolongava em linha retilínea, numa extensão de barro endurecido por todo aquele local ainda fundo, onde restara pó e um pouco de mato ralo ao redor.
Meu irmão, conhecedor do local, disse que ali havia sido, de fato, um rio, ou melhor, um córrego bem grande, onde, inclusive, em época de chuva, transbordava...hoje não restava sequer uma gota d’água.
Seguimos em frente, e, após umas duas horas, chegamos a tal fazenda, onde meu irmão foi fazer um trabalho de campo. Sem poder seguir com ele, tive que ficar por ali. Sentei num banquinho de toco de madeira, comecei a fumar, no que se aproximou Helenita e me pediu um cigarro.
Sentou ao meu lado e começamos a conversar.
Helenita era uma mulher que, não fosse a pobreza e a falta de cuidados, poderia ser considerada linda. Era morena, cabelos e olhos pretos, nariz desenhado, corpo bem feito, enfim, uma mulher bonita, a despeito da simplicidade. Tinha também um quê de languidez, aumentada pela maneira que conversava, com um sorriso cheio de sensualidade.
Era o seu segundo casamento. Esse último marido se chamava Messias. Não pôde ter filhos, tampouco sentia falta:
– Deus num quis, num me importo. Tenho o utro seco.
Vivia de maneira solitária, só com o marido, os cachorros, já que vizinhos só dali umas 5 léguas.
Disse que gostava muito de conversar, ao contrário de Messias, fato que a levava a conversar sozinha, consigo mesma, principalmente quando estava no rio, lavando vasilhas ou roupas, chegava a dar grandes risadas das histórias que lhe vinham à cabeça:
– Mesmo sozinha, Helenita?
– E o que é que tem? É sozinha... quem não tem cão caça cum gato.
– Mas você ri de quê?
– De um tudo, me alembro de história até deu piquinininha.
– E você só ri ou chora também? Lembra de alguma coisa triste?
– Ichi e demais, me alembro sem querer alembrá, mas essas coisas de vida num tem jeito, fica lá ispizinhando a gente.
Então, contou que o seu outro companheiro tinha morrido:
– Ah, então, você é viúva?
– Não, num sô não, eu era, num sô mais.
Foi quando contou que o seu outro companheiro havia se matado:
– Morreu de formicida tatu, ele tomou tanto que dava pá matar uns três dele, entonce, ele queria era morrê mermo. Ele num pensô ni mim.
Adiante se foi a história, mas Helenita não guardava lá grandes dores não:
– Deus num perdoa ele porque ele morreu de mal ruim, tudo por causa de bobagi de ciúme, num pudia vê eu conversando com ninguém. Ele é que acabo, eu tô aqui vivinha.
Disse não sentir remorsos, porque não teve culpa, ele assim escolheu. Relatou que, a princípio, começou ficando doida, correndo no cerrado, até por dois dias seguidos, como se aquilo pudesse aliviar sua dor, mas quando voltava pra casa, começava tudo de novo. Deu pra beber também, mas o que lhe restava no dia seguinte era só dor de cabeça. Por uma época, passou a rezar todos os dias, enfim, fez tudo o que pôde, mas a danada era mais poderosa.
Pereceu nessa labuta bem uns três anos, mas quando conheceu Messias parece que sua vida havia começado de novo, sentia uma alegria...que ficava perguntando o quê era aquilo.
Dias indo, dias vindo, ela ali trabalhando de vaqueira com o marido, nem sempre sozinha nem sempre acompanhada, e o mundo parece que já era outro, sua vida de hoje não era mais aquela, ela era outra.
No caminho de volta, conversando com meu irmão sobre Helenita, ele diz:
- Você deu conversa pra ela? Aquilo é doida de pedra, nunca teve marido morto, ela vive inventando história.
sábado, 8 de agosto de 2009
O ASSALTO QUE NÃO FOI
Eles sentaram no banco de trás do carro, conversamos algumas bobagens e me bateu, não vou mentir, um medo de que eles fossem marginais e cometessem algum assalto ou violência conosco.
Mas não, chegando ao local que ficariam, desceram, agradeceram e repetiram o caminho que eu deveria seguir dali em diante.
Chegando à casa da minha prima, todos me deram uma bronca, dizendo que foi "maior perigo" ter dado a carona àqueles moços.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
DOSTOIÉVSKI – AS SEMENTES DA REVOLTA (1821 a 1849), Joseph Frank
A quem se interessar, transcrevo a resenha da EDUSP sobre o livro (não vou falar sobre porque correria o risco de falar bobagens, deixo a resenha lá pros prof., quando eu for "grande", quem sabe?):
A tradução é de VERA PEREIRA.
Blogs, terapias, tarjas pretas, caras e EU
Na verdade, escrever num blog, todos os dias ou vez e outra, serve para o "quê" mesmo?
No meu caso, inicialmente, achei que talvez fosse um modo de me disciplinar para escrever (habituar-me a escrever com mais frequência), falar do que me viesse à cabeça, desafogar das minhas mágoas e do cansaço de outras atividades, postar minhas poesias, etc.
Mas, se bem avaliarmos a questão, ela é bem mais profunda, não chega a ser oceânica, mas dá uma boa terapia, a depender da sua propensão à psicanálise/psicologia ou até uns tarjas pretas lá no Dr. Raphael.
Isso porque, conforme elenquei aí encima, os motivos que me levam a escrever poderiam ser satisfeitos diretamente numa pasta de word, já que poderia escrever e arquivar, e, vez ou outra, poderia olhar, respirar fundo e me dar por satisfeita.
Não, não é bem assim: na verdade, acho que quero mesmo é ser vista, ou melhor, lida, ainda que tenha passado o meu blog pra umas 8 pessoas no máximo, que poderão passar pra tantas outras...também, se quiserem, podem me achar no google hehehe...e eu na fita, pois não é, sua sabida?
De todo modo, talvez seja uma forma de desabafar num "consultório universal", compartilhando meus sentimentos com pessoas diversas, conhecidas ou desconhecidas, não interessa (nossa, tá piegas isso!).
Porém, pode ser que não se aplique qualquer teoria, seja uma vontade de me "amostrar", a minha "caras", sei lá, entende?
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
CORONA, Paul Celan
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:
o tempo volta à casca.
No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca fala a verdade.
Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos,
dizemos-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio-sangue da lua.
Ficamos entrelaçados à janela, eles nos olham
da rua:
está na hora de saber!
Está na hora da pedra começar a florescer,
de um coração golpear a inquietude,
está na hora de ser hora.
Está na hora.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
O Circo, Marieta
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Era outubro de 2008. Mês do meu aniversário, verão chegando, pós terminando, 2 meses sem fumar, enfim, eu me achando... então, resolvi que era hora de entrar numa academia. Fui logo pagando antecipadamente seis meses numa academia aqui perto de casa pra não correr o risco de fugir.
Não era das mais baratas, afinal no SW nada é barato, mas não era das piores, e, o mais legal, pertinho da minha casa, do tipo que se vai andando a pé sem nenhum esforço.
Então, primeiro dia, aquela dificuldade, música horrível, várias tevês ligadas, ou seja, o inferno era ali, mas a fim de me ver "igual" a todo mundo, aceitei as normas: - avaliação inicial boa: não precisa perder peso, altura boa, peso bom, mas é necessário reforçar a musculatura. Programa inicial: 15 minutos de bicicleta, 15 minutos de esteira, 2 séries de 15 de exercício tal, 4 séries de 20 exercícios X, 3 séries de exercícios abdominais, tantos disso, tantos daquele, UFA, só de relembrar, fico exausta.
Mas, era necessário ir à luta: precisava mudar, afinal todo mundo fazia academia e, não havia uma manhã que fosse levar Julinha à escola que não visse milhares de pessoas "uniformizadas", indo pro ritual mais comum hoje em dia: exercitar-se, e eu, naquele marasmo, a última pessoa do mundo, como o quê? - Serei como vocês!
Bom, lá fui eu...primeiro dia, segundo dia, terceiro dia, quarto dia...voltei a fumar!!! Como? Não era pra deixar de fumar? Bem que deveria ser, mas o stress da academia foi maior...continuei: quinto dia, sexto dia...não dava mais, porém ficava olhando aqueles moços e moças, todos felizes e fortes naquela academia como se fosse a casa deles, e eu, com vergonha até de chamar o instrutor, aliás, não sabia mexer em nada e só pra me acertar com os aparelhos já era um século...e, timidamente, lá ia eu pedir ajuda aos instrutores, nem tão dionísios assim...morrendo de vergonha de ser "a burra" daquele templo.
Até que, no sétimo dia, eu, a caminho da academia, roupinha de ginástica e tudo, passa um moço e grita da janela do carro: "GOSTOSA!" Ôpa, é comigo...fiquei rindo sozinha, achando bom um elogio logo cedo e que me deu força para chegar, firme e forte ao atendimento da academia e dizer: - Quero pedir a suspensão, tô com uns problemas aí, não tô podendo continuar. - Por quanto tempo? - Ainda não sei. - Ok.
Saí de lá, respirei fundo e fui fazer o que eu mais gostava: (não foi fumar, tá?) minha caminhada gratuita, pensando ou não pensando, sem fone de ouvido, sem música, sem tv, só vendo o céu, caminhando sem compromisso, corpo e mente andando juntos, mantendo a forma abençoada que já me foi dada de graça.
Agosto de 2009: nunca mais voltei lá.
domingo, 2 de agosto de 2009
RETRATO NA PAREDE
Tudo começou, à beira de uma piscina, numa festa com amigos comuns, ao permitir um trago do meu cigarro.
Tudo indicava que era uma paixão por afinidades, ele era filiado ao PCdoB, fingia gostar do que eu gostava, era charmoso, carismático e me deixei levar por esse sentimento que não sabia se se tratava de uma paixão, carência ou amor mesmo. Enlouqueci de amor -ou quase - por ele, de tal modo que o mundo poderia desabar sobre mim, mas se ele estivesse ao meu lado, tudo se tornava (de verdade!) maravilhoso.
Todavia, nada é assim de graça, e a tortura começou porque "o príncipe" não tinha nada de príncipe. Constatado isso, sofri muito, perdi minha dignidade, porque o amor não correspondido rouba rapidamente a tal dignidade e tudo o mais que dela advém, porque passamos a nos humilhar por qualquer migalha do outro.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
ELEVADOR PRIVATIVO NA PORTA DO CÉU (parte I)
Conversando ontem com um colega e debatendo sobre o nosso destino de servidores do Judiciário, ele me saiu com uma tirada muito boa: "T., estamos condenados à infelicidade pelos nossos pecados de cada dia somente pelo fato de trabalharmos aqui nesse "complexo de julgadores", afinal um dos mandamentos do Senhor é 'não julgarás!'" .
Partindo essa pérola de um ateu, caí na gargalhada, rimos juntos, mas fiquei com essa indagação me cutucando, principalmente porque no dia-a-dia nos deparamos com um número de pessoas muito insatisfeitas naquele local.
Voltei, então, há mil anos atrás e me recordei que, já lá nos meus tempos de estudante de direito, eu me considerava uma estranha, um ET, tão diferente me sentia no meio dos estudantes daquela faculdade (eles não participavam de nada, fosse uma manifestação pró ou contra qualquer coisa, mas só se interessavam por aquilo que dizia respeito aos seus próprios interesses, era como se o mundo lá fora não existisse).
De todo modo, achava que era porque me encontrava numa cidade (Goiânia) com valores um pouco diferentes dos meus - mais tarde descobri que não era nada disso.
Ainda hoje me recordo - e olhe que minha memória é péssima - uma aula de sociologia política, na qual discordei de uma das teses, para além de reacionárias, idiotas mesmo, do professor, e ele, com sua cara dura e feia, disse: "você sabia que, com essas idéias, pode ser reprovada?"
De outra feita, numa eleição pra Reitor, na qual fiz campanha pro candidato da "ala esquerda" contra um professor da FD, quase me tiraram a camiseta de campanha que vestia em sala de aula.
Sem falar, ainda, num professor X que disse não poder criticar Hitler porque não estava lá pra saber verdadeiramente o que ocorreu (ah, tá...).
Aliás, foram tantos os episódios grotescos que me ocorreram naquele local que me perguntava sempre o que me levara a um caminho tão diverso do que imaginei pra mim...(o que me salvava era fugir pra biblioteca da praça universitária e ler tudo que NÃO fosse da área jurídica ou ficar conversando horas a fio com W. ou M. - por quem nutria uma paixão secreta).
Digo isso pra procurar entender "o pano de fundo" da seriedade (ou seria infelicidade?) que teima em fazer dos órgãos da Justiça um local tão diferente e sisudo: a começar pelas roupas travestidas "de pessoa jurídica" que somos obrigados a aturar e, justiça seja feita, já melhorou muito nesses anos todos!
O fato é que trabalhar com pessoas em conflitos, sejam emocionais ou jurídicos, deve ter algo de pecaminoso mesmo, como dizia R., haja vista sermos obrigados a lidar, infinitamente com processos que, como formigueiros, não acabam nunca, além de ter que lidar com deuses, semi deuses, quase-deuses e "gente', finalmente.
Não é tão fácil, porque a relação humano-divina humilha e espezinha os seres humanos, afinal deus não erra, não tem pecado, sequer original e nós, gente, continuamos na via Sacra. Jesus que nos socorra!