segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A Marca Humana, Philip Roth

"Para viver na confusão do mundo com um mínimo de sofrimento, o segredo é conseguir fazer com que o maior número de pessoas possível embarque nas suas ilusões; para viver sozinho aqui na montanha, longe de todos os envolvimentos, todas as atrações e expectativas que nos perturbam a paz, longe, sobretudo, de nossa própria intensidade, o segredo é organizar o silêncio, pensar na plenitude da montanha como capital, encarar o silêncio como uma riqueza que está se multiplicando constantemente. O silêncio que nos cerca é a vantagem que escolhemos, e é só com ele que temos intimidade. O segredo é encontrar sustento nas 'comunicações de uma mente solidária consigo mesmo'. [...]. O segredo é encontrar sustento na sabedoria dos mortos geniais."

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

sábado, 14 de novembro de 2009

Homenagem

Dias sem luz
e ele me arrebata
Entrando sem temores
num mundo com esquinas e curvas
E onde delícia tem sabores outros
Além de vinhos e queijos e doces.

Sim,
Com ele me deleito.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Noite de Poesia

Noite de Poesia na escola de Julinha, com recital, exposição e tal. Auditório com pouquíssimos alunos e pais e parentes. Poesia, como sempre, não dá ibope.


Os alunos do 8º ano (em torno de 50) haviam criado poesias, das quais seriam escolhidas 6, com premiações pela Escola.

Chego, vou ao mural, leio algumas delas, da minha filha e outras, e em todas, sentimentos de adolescentes, vagos ou não, ingênuos, sinceros, copiados, um misto de adolescentes românticos e raivosos e amorosos, gente como a gente.

Sento e aguardo.

Início: um vídeo, com umas gravuras de uma criança que se torna um velho, aquarelas, passarinhos em fios que se balançam, muito bonitinho. Acompanhando o texto e as gravuras, uma música em inglês, que não conheço, mas gostei.

Na verdade, gostei do vídeo, porém a apresentação do vídeo naquele momento foi inoportuna, era preciso gente, gente falando, conversando, adolescentes recitando, criando...

Na verdade, de novo, sei que ando insuportável, implicando com tudo, coisa de mulher chata, mas, não é bem assim, é que vídeo, vídeo, computador, eu tô cheia; caso queira, abro no Google, aquele vídeo e texto e curto aquilo no meu computador. Ali, eu queria emoção com gente ou gente com emoção, por aí.

Depois do início insosso, vem uma parte boa, violão e professores recitando poesia: ao todo 6 poesias, as vencedoras. Vi de cara que a poesia de Júlia não fora uma das escolhidas e ela chia do meu lado...que birra é essa da gente querer ganhar sempre? Eu falo isso, mas não aprendi nada de nada, porque, como ela, fico triste por ela não está entre as 6 "melhores" e lidas.

Palmas, premiação simbólica e vamos embora. Júlia chora, se sente a derrotada, aliás, como eu me sentiria.

Saímos de lá, Júlia chorando, pergunto a ela:
 - Você tá triste, né, filha?

– Tô nem aí, mas também não vou participar mais, se eu soubesse não teria vindo.

- Julinha, você tá triste, filha, eu sei só em olhar pra você...eu também tô...se eu tivesse participado eu também teria ficado triste por não terem lido a minha...

Julinha para de chorar e pergunta:
 - Mamãe, você já participou de concurso de poesia? Eu não vou participar mais...a de M. foi copiada um pedaço de uma música (em inglês) e a outra, de B., parece que foi também.

- Eh, filha, mas aí é questão de consciência. A de M. eu tenho certeza do plágio, mas a outra, não sei. A menina talvez goste de ler poesia, tenha um dom pra isso.

- Ah, mamãe, mas também eu nunca li um livro todo de poesia, eu só gosto da poesia de Cazuza, acho linda. Mamãe, Cazuza era poeta?

- Era sim, claro.

- Mas tem umas coisas dele que eu não entendo...

- Ué, Julinha, não precisa entender tudo, é só sentir...

- Mamãe, também não concordo com o que o Léo falou lá, de que todo o mundo é poeta; não é não, tem gente que não é poeta.

Largo uma risada: - Concordo, filha, acho que tem gente que não é poeta.

Já em casa, Júlia toma banho e quer dormir, parece que esquecida da noite, da poesia. Antes, lê uma adaptação de um livro, "Dom Casmurro", e fala:

– Mamãe, todo mundo diz que esse livro é ruim, mas ele é tão legal, eu tô gostando.

- Eu também gosto, filha, é muito bom...Bentinho, Capitu, muito legal.

Logo, vem e me pede pra dormir comigo. Deixo, e vejo que, quando Júlia quer dormir comigo e tão cedo, é porque algo não vai bem. Resultado da Noite de Poesia...

Tento entender o porquê de um colégio realizar esse tipo de Noite ou de Tortura, mas, em silêncio, me cutuco e vejo, cá de longe, sem ser mãe, que, também da decepção, perda, angústia e tristeza, é que nasce a poesia, ou não, afinal nem todo mundo é poeta.


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Indiana Nomma

Esta cantora daqui de Brasília é maravilhosa!!!


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O prazer da vingança, Contardo Calligaris (Folha de São Paulo, 15/10/2009)

PODE SER que, ao longo da vida, você nunca tenha sido ofendido. Mas, para a imensa maioria dos humanos, não é assim. Quando crianças, esbarramos em adultos que parecem quase sádicos, na sua incapacidade de nos escutarem e entenderem; logo depois, encontramos os "bullies" da turma do fundão da sala de aula, da praia ou da rua. E assim continua.

A vida de cada um escolhe as encruzilhadas em que sofremos mil violências morais ou físicas, grandes ou pequenas. Com elas, em regra, não ganhamos nada, a não ser que a gente acredite numa justiça divina após nossa morte: quem sofre aqui na Terra será recompensado nos céus. Também podemos nos consolar com a ideia de uma "grandeza" moral que nos seria própria, pela "generosidade" com a qual aguentamos as ofensas, esquecendo-as ou mesmo oferecendo gentilmente o outro lado do rosto.

Mas resta uma dúvida (que compartilho com Nietzsche, "Genealogia da Moral", Companhia das Letras): nossa moral aparentemente generosa e a esperança de que Deus, um dia, recompense os ofendidos e puna os ofensores talvez seja uma grande invenção coletiva, criada, justamente, para que as vítimas sejam confortadas e possam perdoar não tanto aos agressores, mas a elas mesmas, ou seja, perdoar a "covardia" da qual elas acabam se acusando, num eterno lamento por elas não terem revidado na hora.

Disse antes que, com as violências que sofremos, não ganhamos nada. Mas não é bem assim: o lamento de não ter revidado é uma das grandes fontes da ficção. Pense bem: inúmeras vezes, dias e mesmo meses a fio, depois de ter sido insultado, machucado, assaltado, empurrado real ou simbolicamente, você ficou imaginando e aprimorando, em seus detalhes, desfechos diferentes, nos quais você, na hora da ofensa, teria imediatamente resgatado sua honra e punido o agressor, deixando-o tão inerte e silencioso quanto você mesmo ainda lamenta ter ficado. Em suma, o desejo frustrado de se vingar é uma poderosa matriz narrativa, sobretudo nos devaneios privados, em nosso cinema de bolso, que fica escondido por ele ser pouco conforme com os ditados da moral dominante.

Quentin Tarantino, com "Bastardos Inglórios" (que acaba de estrear e é um de seus melhores filmes), leva esse cinema de bolso para as salas: é uma verdadeira festa de vingança, uma fantasmagoria cuja violência é alegre e libertadora.

A história contada não cola direito com os fatos da Segunda Guerra Mundial? Você acha curioso que um bando de soldados dos EUA, infiltrados na França ocupada pelos nazistas, aja como índios apaches saídos de um bangue-bangue, recolhendo os escalpos dos que conseguem matar? Ou se surpreende com o fato de que eles marquem com uma suástica na testa os poucos que eles decidem poupar?

Pois é, reconheçamos a Tarantino a mesma liberdade que nós nos permitimos em nossos devaneios de vingança.

Para o que serve essa liberdade de imaginar? Talvez as ficções e, em particular, o cinema (de bolso ou de sala) tenham algum poder de alterar a história, fazendo justiça, por exemplo. Não digo isso apenas porque, em "Bastardos Inglórios", a vingança final acontece graças a uma sala de cinema. E, é claro, sei que os devaneios, em geral, não se realizam mas também sei que eles nunca são vãos, simplesmente porque são o alimento de nosso desejo.

Um outro filme, lindíssimo, conta com uma distribuição limitada e talvez não chegue às salas do Brasil inteiro (no caso, anote o título e espere o DVD): "Deixa Ela Entrar", de Tomas Alfredson. É um filme sueco, que é apresentado como uma história de terror, e é verdade que há um vampiro no filme. Mas o meu prazer de espectador foi outro...

Acho que já contei: quando era criança, eu tinha uma pequena orquestra imaginária, que levava sempre comigo. Ela me servia para combater o tédio, sobretudo quando acompanhava meus pais em intermináveis visitas a museus. Passei bons momentos com a minha orquestra, mas confesso que teria adorado ter também outros amigos imaginários, mais eficientes na hora dos apuros. Uma vampira que gostasse de mim teria sido perfeita. Já imaginou? Alguém que saísse das sombras e arrancasse os pescoços, as cabeças e os braços dos idiotas que me azucrinavam a vida?

Pois é, "Deixa Ela Entrar" é a história de um menino que tem (ou inventa?) a amiga imaginária da qual ele precisa, para se vingar. De uma amiga assim, todos precisamos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Permaneço

Hoje
tenho todas as idades em uma
Nelas, percorro o mistério dos dias para chegar
em nenhum lugar

Não estando
Não sendo
Sou tudo e nada
em anos que se iniciam
e se findam

Volto
ao meu porto de saída
e de todas as chegadas
De cá,
lá,
busco estradas
Sigo
Retorno
e Permaneço

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

É outubro, o mês que nasci...

Nasci num mês de outubro, no cerrado do Tocantins, outrora Goiás.

O lugar, lindo, quase uma vila, divisa de Goiás-Tocantins-Bahia, com uma Serra Geral bela a fazer essa divisão de chãos que se estendem em altos e baixos num terreno arenoso e avermelhado em alguns pontos, habitada por onças e índios, num passado mais distante.

Nunca me esqueço que, desde criança, pelas estórias contadas, olhava aquela serra, que se estendia de ponta a ponta da cidade, numa espécie de louvor, admiração, felicidade e curiosidade intensa sobre o que havia por trás dali.

Como não havia como transpor aqueles morros, só sonhava.

Sonhava encontrar o que? Bem, não sabia ao certo e me vinha toda sorte de sonhos encontrar: o mar, índios, uma cidade grande, pessoas diferentes, mundos diferentes e chegava a sentir saudade de um mundo que sequer conhecia.

Até hoje tenho uma nostalgia de coisas e pessoas que nunca vi, nunca peguei, é um sentir presente na minha memória, aquela supostamente inconsciente, que reporto àquelas tardes e manhãs direcionadas a olhar e sonhar envolta pelo que me trazia a minha Serra Geral.

O fato é que, desde o meu nascimento até a adolescência, vivi naquele pedaço de cerrado, aquela vida de cidade pequena, com tudo a que tem direito uma criança: banhar em rios e córregos; pular de ponte (sem nunca ter quebrado nenhum dedo); subir em árvores; comer frutas direto do pé; andar de calcinha pelas ruas; andar a pé pelas roças pra pegar caju nos meses próprios; ir pra roça e passar 2 meses vendo mato e bicho; jogar futebol, e queimada, e vôlei; andar de bicicleta até cansar; ouvir as "rádios" da moda; ler Tex, gibis vários, depois Machado de Assis, José de Alencar e tantos outros, sem cansar, na biblioteca do Mobral; desfilar no 7 de setembro; apanhar e nunca chorar por unhar os irmãos e todo mundo; furtar dinheiro pra comprar muuuitas balinhas; ir pra missa e levar bronca do padre José; brincar de boneca no quintal de casa; ganhar um outro nome de pai (tita), sem saber o porquê; sonhar e sonhar com outros mundos, dos livros e da minha cabeça...

Assim foram os anos e outubros da minha vida naquele pedaço de mundo que carrego comigo, onde nasci, em pleno meio-dia, numa família de 5 irmãos, nas mãos de Dona Ana, minha parteira, porque, ao contrário dos meus irmãos, nasci em casa e sem médico.

Aliás, quando me entendi por gente, esse era um fato que me deixava indignada: como é que, logo eu, fui nascer em mãos de parteira? Porque no nascimento de todos os meus outros irmãos, mãe tinha ido pra cidades com suporte médico-hospitalar? Decerto que ela queria que eu morresse, fazia-me de vítima e me sentia "a discriminada".

Mãe explicava que não havia dado tempo, eu era enorme e acabou tendo que me parir em casa mesmo, mas eu não queria saber, embirrava com isso.

Hoje, quando chega outubro, de tudo e tanto a que tenho que agradecer, essa é uma das minhas maiores dívidas com a vida, ter tido esse privilégio de nascer em casa, nos braços e em mãos de parteira, de uma pessoa do povo, que, com sua sabedoria e garra, soube me "desenrolar" do cordão umbilical, literalmente, e me trazer solta pra enfrentar o mundo. Isso me fez mais forte, acho que tanto no corpo quanto na mente.
Aliás, mãe conta com orgulho, que, dos filhos, fui sempre a mais saudável. Ela diz: - Dos meus filhos, Tita foi a única que não me deu trabalho, nunca adoecia.

Acho que hoje “dou mais trabalho”, tenho meus conflitos e crises que me apequenam, mas é só puxar o gancho da memória, beber da minha fonte e voltar inteira pra mais um ano que se inicia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Tempo, Tempo, Tempo, Tempo


Por determinação superior, comecei, a partir de hoje, um tal “Curso de Desenvolvimento Gerencial”, que relutei em fazer porque sabia que viria merda, mas os ossos e as nervuras do ofício me obrigaram.

O fato é que, mesmo atrasada, lá estava eu, junto com mais uns 40 colegas, às 9h da matina de uma segundona, ouvindo o discurso de uma alegre psicóloga.

Eh, realmente, eu a achei bastante disposta e feliz pra uma segunda-feira, já que se eu pudesse saltar esse dia da semana... aliás, esse foi um dos motivos pelos quais cheguei de cara amarrada, mas, passados uns cinco minutos, já estava disciplinada, igual a um rato de laboratório, atenta ao discurso e slides da mulher.

Na verdade, quando vi os slides, já impliquei de cara, porque já estava predisposta a não gostar do curso, ou seja, totalmente “armada” por ser “obrigada” a fazer, e, como precisava de mais alguma coisa pra implicar de vez, resolvi eleger os slides como meus inimigos da vez.

Da mulher, alegre, baixinha, simpática, não dava pra não gostar assim de cara, principalmente porque, como não terminei o curso de psicologia, tenho uma propensão a proteger os psicólogos e esculachar o mundo jurídico, como uma forma de combater minha frustração “ao inverso”, embora também não entenda essa neura, mas é mais ou menos isso e dispenso maiores explicações...

Bom, o fato é que dez minutos foram suficientes para segurar a minha ânsia de vômito e esculachar, silenciosamente, todos os psicólogos (nascidos ou por nascer) que se metem a ministrar palestras de auto-ajuda para babacas se lambuzarem com as idiotices pregadas por eles (sempre atreladas à “teoria comportamental”), como se fossem pastores ordenhando ovelhas ou fiéis ou cientistas testando ratos ou robôs.

Coisas do tipo: vocês têm que se programar para organizar o seu tempo, gerenciar seu tempo, cronometrar seu tempo, pensem na produtividade, equilíbrio, o tempo para melhorar sua vida, você precisa de tempo, o tempo é o único recurso...tempo, tempo, tempo, e não era Caetano!

E mais: vocês têm que aprender andar na linha, como numa estrada de ferro! Bom, desde que eu era um feto, já sabia que quem anda em linha é trem e, a essa altura, querem me “desaprender”? O pior é que era segunda, e eu, sonolenta, não tinha forças para polemizar.

O curso continua e, agora, a merda, ops!, os slides:

● Administração do Tempo
● Para onde foi o Tempo?
● Motivação
● Como você usa seu Tempo?
● Fazendo um balanço do seu Tempo
● Ditado: “Não importa a direção em que o vento sopra, o importante é como eu acerto as velas”, hahahahahaha, essa ganhou...

Pensa que terminou? Não! Ainda veio a estória da garrafinha (a lição era pra ensinar a nós, marmanjos e marmanjas, quem são as GRANDES PEDRAS E O RESTO das nossas vidas); e a estória do homem que parou para amolar o machado e conseguiu a façanha(?) de cortar mais madeira que o mais jovem.

Bom, é preciso um parágrafo pra falar dessa última estória “pedagógica”: primeiro que falar em cortar madeira já me deu uma comichão; segundo que o idiota do velho não parou pra descansar (como eu esperava!) mas pra ter forças e ACABAR DE VEZ COM A FLORESTA!

Por fim, as brincadeirinhas: reunião em grupo para que se programasse o tempo de 36 horas para 8 horas, nem vou contar porque é bobagem demais; depois, jogou no alto um monte de balas e caiu na burrice de “me” perguntar porque eu não havia pego: - Ora, porque eu não quis! Gelo total e prossegue: - Quem pegou uma, levante a mão; Quem pegou duas, levante a mão; - Você pegou sete? Nossa! Vocês sabe aproveitar as oportunidades! E um colega colega disse: - Guloso! Outro perguntou: - Quantos filhos tem?

Essa última pergunta foi ótima, porque alguém correr pra pegar 7 balas àquela hora da manhã ou tem 7 filhos, ou, digo eu, acabou de fazer redução de estômago e quer comer todos os doces que vê pela frente, ou, então, é aquele servidor, aquele servidor do Judiciário que quer abraçar todas as oportunidades, ainda que sejam balas às cinco da manhã.

Já no final, a agora ex-simpática psicóloga pergunta: - Vocês gostaram do curso? [...] E, de mim, vocês gostaram de mim? [...] Vocês ainda vão me agradecer muito! Muitas pessoas transformaram suas vidas depois de uma semana de curso!

Sem comentários.

Bom, quase meio-dia, findo o primeiro dia de uma série de cinco para que eu aprenda com alguém como gerenciar a minha vida, a dos outros e o meu tempo (ah, tá!). E haja princípio da hierarquia para segurar meus ossos!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Joel

Sensação de estar só no mundo
Absolutamente e sem Bandeira.

!Coisas perdidas
Mundos deixados
Pessoas transformadas
Saudades insistentes
Fossos latentes!

Como aquele menino do farol
O menino a quem olhei nos olhos,
perguntei o nome: - Joel.
...E a quem não dei um real.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cássia Eller e Maria Gadu

Lembro-me ainda hoje do penúltimo show da Cássia Eller, uns três meses antes de sua morte: em São Paulo, outubro/2001 (?), não sei exatamente o nome da casa de show também (Tom Brasil?), mas me preparei toda, feliz por estar em São Paulo e, mais ainda, por poder assistir a um show que saberia maravilhoso, afinal já a havia visto outras vezes sempre com o mesmo espanto e admiração.

Ela era a minha cantora, aquela que me emocionava só de cantar “atirei o pau no gato”.

“Com você...meu mundo ficaria completo” foi memorável e me marcou por tudo, desde o F. que conheci lá e que, por azar do destino, me impediu de ir conversar com ela, já que havíamos, eu e minhas amigas, preparado tudo para ir até o seu camarim: era a primeira vez que pagava o mico de tentar conversar, digamos assim, com meu ídolo. Não fui, o F. me roubou e perdi a minha foto com Cássia Eller e aquela que seria a minha única e última oportunidade de estar com ela.

Pois é, quando em dezembro/2001, passando final de ano na casa da minha mãe, ela me chama: - Ei, Tita, aquela cantora que você gosta morreu, tá na televisão.

Levanto, achando que minha mãe não saberia de quem se tratava, afinal ela é daquelas que no máximo ouve padre Fábio de Melo, e, fatalmente, estaria enganada, corro pra TV, mas, de fato, Cássia Eller havia morrido.

Sofri, não acreditava: como que eu ficaria sem Cássia Eller?

Nunca mais a ouvi sem aquele pesar n’alma, é sempre um nó, um aperto que me dá, saudade incerta, voz sem dono... Queria-a viva, com a possibilidade de novas músicas, novos shows.

Tempo passa e agora me aparece Maria Gadu: amor à primeira vista, voz linda, repertório bom, uma pérola!

Novas emoções a moverem o mundo na música e na vida!
Longa vida a Maria Gadu!

http://www.youtube.com/watch?v=q5u0uPHDYhg&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=_A6Cs2WTRdY&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=bD0YGQTBBgM&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=Ph-pLZEVWGs&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=ACGw3Jj_1Jc&feature=related

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Teresa e outros anjos

Noite caótica. Saio para encontrar com uma amiga, e, na subida do Colorado, uma peça do meu carro quebra em plena rodovia. Carros buzinando na minha cabeça, mantenho a calma, embora com as pernas tremendo, acendo o meu pisca alerta e o do carro e me entrego a Deus, rogando para que ninguém batesse em mim nas minhas tentativas vãs de sair com o carro, principalmente naquele lugar ermo e escuro.

Tento por meia hora e nada. Passa um anjo (sempre aparecem anjos na minha vida nos momentos mais críticos) que me tira do sufoco. Pergunto, constrangida, quanto devo a ele, cuja resposta é "nada", "que é isso?", afinal, existe algum pagamento para alguém que a resgata num lugar, àquela hora, como se fosse seu amigo há milênios?

Além de tudo, o anjo me leva até minha amiga, também um outro anjo em forma de gente, a Tê, Teresa, Terezinha ("E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas" - Manuel Bandeira).

Tanta gente boa no mundo, meu Deus!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O homem, o cachorro, o jegue e a gravata

Saio no meu quintal, minha pequena varanda da qual vejo a lua e o mundo, e, pra variar, vejo um ser humano puxando um cachorro, como o homem que puxava o jegue no sertão de outrora, com a diferença "sutil" que no pescoço dele estava amarrada uma corda, quer dizer, uma gravata.

Inquieta, sigo-o ate vê-lo sumir lá na esquina da farmácia e o dito continuava com a corda no pescoço e fico a me indagar: o que faz um homem, num calor que lembra Palmas e Cuiabá, andar de gravata amarrada no pescoço, ainda que num mero passeio noturno com seu cachorro faceiro?

Só pode ser doido, pensei. Só pode ser doido, pensei de novo.

Sem resposta, precisei pensar de novo: talvez o doido não tivesse tido tempo pra tirar a gravata ou se esqueceu ou talvez fosse friorento e, nesse frio de 38 graus acima de zero, ele tivesse sentindo calor ou talvez ele não quisesse se passar por um mero carregador de jegues e se ornamentou pra parecer que levava um cachorro.

Maybe! E eu com isso? O cachorro tava feliz, o homem aparentava felicidade, todo elegante sendo puxado por uma gravata... e eu? Ah!!!!!!! Eu que estava precisando de um nó nos meus neurônios para (des)compreender o homem, o cachorro, o jegue e ela, a gravata.

MARINA SILVA no El País (matéria retirada do UOL)


A ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil (2003-2008) abandonou o Partido dos Trabalhadores (PT) porque o presidente Lula da Silva não apoiava suas "medidas drásticas" contra o desmatamento da Amazônia.Marina Silva tem uma imagem frágil, que sua biografia desmente.
Nascida há 51 anos em uma família muito pobre de seringueiros, trabalhou desde menina no campo como empregada e foi analfabeta até os 15 anos. Aprendeu a ler em um convento, antes de se dedicar ao sindicalismo e se transformar em estreita colaboradora do legendário ecologista Chico Mendes. Acabou se doutorando em história da arte. Casada, tem quatro filhos (de 21 a 10 anos).
Silva passou por uma longa trajetória política no PT sem perder força na defesa de suas ideias e sem que ninguém jamais a tenha acusado de corrupção. Seu desembarque há um mês no Partido Verde, de onde provavelmente disputará a presidência do país, causou um terremoto político.Em seu austero escritório no Senado, Marina Silva esforça-se para não fazer o menor ataque contra Lula. Inclusive responde com brincadeiras à acusação do presidente de que sua campanha será um "samba de uma nota só". "Ele está sendo generoso, porque me dá um dos lemas de sua própria campanha, que foi, essa sim, de uma nota só: 'Lula-lá'", ri. No entanto, a senadora toma cuidado para referir-se sempre ao progresso do Brasil como "um processo dos últimos 16 anos", isto é, que começa com Fernando Henrique Cardoso e não com Lula.

El País: O que mudou no Brasil desde a chegada de Lula?

Marina Silva: Houve algumas conquistas importantes. Por exemplo, em relação ao equilíbrio fiscal e à estabilização da moeda, o que permitiu atravessar a crise atual com certa tranquilidade. Com a chegada de Lula ocorreu um certo sobressalto, mas eu diria, como um dado muito positivo, que a democracia já está consolidada e tivemos avanços notáveis na agenda social. O Brasil tinha índices de pobreza inaceitáveis e nos últimos anos foram reduzidos em 19%.


El País: Por que a senhora deixou o governo Lula?

Silva: Não sentia que tivesse o apoio necessário para manter as políticas ambientais tal como foram concebidas. Isso aconteceu no final de 2007. Em três anos, nosso plano havia conseguido diminuir o desflorestamento em 57%, mas como não foram cumpridas outras diretrizes na Amazônia voltou o risco de que se retomasse a destruição da selva. Tomamos medidas drásticas, como proibir o crédito para empresas ilegais, levar à prisão não só quem destruía a selva mas também quem plantava, produzia e exportava. Criou-se uma grande tensão e tanto eu como minha equipe vimos que o governo estava disposto a abolir essas medidas.
El País: Há um grande debate sobre até onde a Amazônia pode se desenvolver.

Silva: O termo socioambientalismo, que significa integrar a proteção da selva ao desafio de promover a inclusão social, foi cunhado na Amazônia a partir da luta de Chico Mendes. Para nós, da Amazônia, essa visão da defesa do meio ambiente nunca foi interpretada em termos de conservar essa terra como um santuário inviolável. Desde o início todo o esforço tratou de integrar o meio ambiente e o desenvolvimento econômico em uma mesma equação, sabendo que não é possível repetir na Amazônia os erros que foram feitos com a mata atlântica (da qual restam apenas 5%) ou do cerrado (o planalto brasileiro, cuja destruição já chegou a 50%). A Amazônia foi destruída em 17%.
El País: A senhora culpa Lula pelo fracasso da política ambiental?
Silva: Não se trata de personalizar. O problema de assumir a economia sustentável como estratégia é algo complexo que ainda não existe em nenhum lugar do mundo e que nenhum partido assume completamente. O que o Partido Verde e eu estamos fazendo é inovador e não podemos demonizar os outros porque ainda não o fizeram. O que se deve criticar é que se continue perdendo tempo quando já é possível fazer que o Brasil dê esse passo, porque reúne as melhores condições para tanto.

El País: A senhora manteria a política econômica do governo Lula?

Silva: Os processos são cumulativos. Não existe espaço para processos niilistas em relação ao já conquistado. Existe um reconhecimento de que nos últimos 17 anos o Brasil conseguiu o equilíbrio fiscal e a estabilização da moeda, junto com a grande inovação que Lula introduziu que foi a questão da distribuição da renda. Tudo isso deve ser preservado. Creio que temos espaços para melhorar e que já não existe o perigo de se destruir tudo o que foi construído nos últimos 16 anos.

El País: Depois da descoberta de novas jazidas de petróleo e gás no Brasil, começa-se a falar em um certo nacionalismo.

Silva: O Brasil tem uma economia de mercado, aberta. É legítimo que os países queiram usar seus recursos naturais em benefício de sua população, o que não significa que vamos nos fechar como uma ilha. Hoje é impossível pensar em fechar portas ao capital estrangeiro. O que acontece é que às vezes algumas empresas estrangeiras gostariam de atuar aqui com uma flexibilidade da legislação ambiental que não têm em seus próprios países. E isso não pode ser.

El País: Um dos grandes desafios do Brasil é a corrupção, que se incrustou em todas as instituições de forma alarmante.

Silva: Mesmo reconhecendo que o Brasil tem problemas graves de corrupção, eu não ousaria dizer que Lula não fez nada a esse respeito. Ele implementou sistemas de controle e ampliou significativamente a capacidade de investigação da Polícia Federal. Quando fui ministra do Meio Ambiente, levamos à prisão 725 pessoas. Muitas delas eram funcionários públicos. Sem a liberdade de investigação dada à polícia pelo governo, isso teria sido impensável. Se hoje se vê mais a corrupção é porque se investiga mais.

El País: Em um hipotético segundo turno em 2011, a senhora daria seu voto à candidato de Lula ou ao candidato social-democrata, de oposição?

Silva: Não posso falar ainda como candidata, mas creio que o debate deve ser sobre ideias e que a ética deve prevalecer. Eu nunca mentiria a respeito da honra de alguém para ganhar eleições. E de um ponto de vista político creio que, se me apresentar, será com a aspiração de chegar a esse segundo turno. Eu gostaria de fazer algo parecido com o que o PT fez há 20 anos, quando rompeu com os partidos tradicionais. Chegou outra vez o momento de unir todas as forças sociais, políticas e intelectuais do país, para criar uma nova estratégia para o Brasil.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O "quase" amor

Quando não estou a fim de estudar aquelas matérias de concurso, sempre chatas, que me tiram o humor e o gosto pela vida, fico buscando qualquer coisa que me distraia, tento me enganar: ligo a TV, assisto à novela, busco a internet, lembro de histórias, chego aqui, na minha pasta Word e conto histórias pra mim mesma, faço de mim minha criança, acalento-me e vivo.

Então tô aqui, de novo, pra falar do amor, do quase amor de Luís e Luísa. É brincadeira? Nãããããããããão!

Joana conheceu João ou Luís conheceu Luísa, tanto faz, os nomes não importam e nem é preciso dizer como se conheceram nem porque nem quando.

O fato é que se encontraram. Ele foi buscá-la no aeroporto, ela tímida, havia procurado roupas e roupas antes da viagem, nenhuma havia ficado bonita e marcante o suficiente para um primeiro encontro, mas como não poderia ir pelada, teve que escolher aquela, se achando horrível, afinal não gostava de se maquiar, a cara tava limpa, mas resolveu colocar um salto 15 pra impressionar, 1,85m, ele não poderia ficar indiferente, mas o susto dela foi maior, se deparou com um homem alto, louro, lindo, charmoso, quase um George Clooney.

Aproximaram-se um do outro, beijo na boca de leve; ela, querendo morrer de tanta vergonha; ele, seguro, leonino, nem aí, leve e solto, abraçando-a, ela suando e se desfalecendo. Estava prestes a ter uma daquelas típicas crises de pânico, mas ele a socorreu, sugeriu um café ali mesmo, ela aliviada, pediu uma água, olhava pra ele: - Perfeição demais! Dizia pra si mesma. –
Não queria aquilo! Nunca gostara de homens tão belos e perfeitos. Sempre ficara com um pé atrás.

Conversaram, falaram da ansiedade, do desejo, de se conhecerem melhor, mais beijos, menos conversas e ela se apavorou. Pediu licença pra ir ao banheiro. De lá, com apenas a bolsa a tiracolo, passagem de volta na mão, foi pra livraria, comprou uma revista, sentou-se num canto, escondeu a cara como se estivesse lendo ou como se fosse um bandido, à espera da partida.

Nunca mais voltou, nunca mais o viu, ficara ele com o seu melhor: a mala com suas melhores roupas e a sua pose de libriana dramática e neurótica, como uma noiva em fuga.

Ainda hoje, ele a intriga. Luísa o segue, de forma sorrateira, sabe da sua vida, da sua solteirice incansável, suas viagens, dos seus mundos. Ele vive; ela, escondida, perscruta e sonha.

sábado, 12 de setembro de 2009

Ensinamento, Adélia Prado

Adélia Prado está hoje comigo, me rodeando, me ensinando:

ENSINAMENTO

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente,
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Por onde andará Belchior, ops! Tita?

O noticiado sumiço de Belchior fez a imprensa escrita e a televisão, em particular, a Rede Globo, ganharem alguns quilos de audiência.

Acho que esse era o propósito deles.

Quanto ao Belchior, fiquei a me perguntar se sumira por pura jogada de marketing ou para curtir um sossego, sem qualquer intenção de alarde.

Óbvio que não sei qual das alternativas é a correta, mas que fiquei com inveja dele, isso fiquei, independentemente de saber sua real intenção.

Sempre tive uma vontade secreta (?) de dar uma sumida! Partir, temporariamente, para algum lugar em que pudesse ficar sem eira nem beira, somente comigo mesma.

Na verdade, é possível ficar consigo mesmo sem precisar viajar pra algum outro lugar, mas isso é meio difícil, há sempre os compromissos do dia-a-dia no lugar em que se estabelece como pessoa física, cidadã com direitos e deveres, quer dizer, sempre, com muito mais deveres.

Lembro-me que numa recente viagem que fiz para Itacaré, decidida em horas, tive um gostinho do que pode ser um sumiço assim.

Dois dias sem atender a telefonemas e sem dar notícias a quem quer que seja. Indo pra praia sozinha, curtindo a noite sozinha, comendo e dormindo sozinha, totalmente isolada da vida que levo normalmente.

No terceiro dia, Madalena arrependida ou consciência pesada, me dei uma cutucada e informei à minha filha e ao resto do meu povo, incluindo namorado, onde eu estava.

Parece que, daí em diante, perdeu um pouco a graça, porque passaram (minha rede Globo particular) a me ligar, saber que dia eu voltaria, se eu estava bem, se estava ruim, essas bobagens, quer dizer, adeus sossego.

Depois disso, me entreguei por minha culpa, minha tão grande culpa: terceiro dia e já comecei a me enturmar, fiz amigos e, adeus isolamento, já era de novo pessoa física e cidadã, agora de Itacaré e com um pouco mais de direitos que o habitual.

Sexto dia, retorno pra casa e tudo continuava igual..., nada me restara dos dois dias "sumida".

domingo, 30 de agosto de 2009

Marina, Rosa e o Amor

Domingo, eu, sozinha em casa.

Minha filha viajou com o pai, minhas primas que vieram passar o final de semana comigo acabaram de sair e me bateu uma saudade de tudo e de todos.

Durmo, acordo e chego aqui na internet.

Assisto à filiação de Marina Silva ao PV e, choro com ela, quando cita Guimarães Rosa (para referir-se à sua saída do PT):

“Será que você seria capaz de se esquecer de mim, e, assim mesmo, depois e depois, sem saber, sem querer, continuar gostando? Como é que a gente sabe?” (Primeiras Estórias – Nenhum, nenhuma)

Esqueço a política e só penso no amor, mas fazer política bem não é amar e amar mais?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Divórcio: "raspas e restos me interessam"


Quando me separei foi aquele caos: um dos piores momentos da minha vida. Acho que G.Gil (sim, ele mesmo!) foi quem (não) me deu a maior força: Os pecados são todos meus/Deus sabe a minha confissão/Não há o que perdoar/Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão ..., DRÃO
Minha filha, então com 6 anos, se revoltou muito, principalmente, porque despejou, junto com alguns da minha família, “a culpa” e o fim do casamento, em mim, afinal o pai dela fez esse favor de informá-la dessa forma, ou seja, o inferno que ela estava vivendo era exclusivamente em razão da minha (ir)responsabilidade.

Lembro-me que tentei dissuadi-la daquela opinião, esclarecendo sobre aqueles papos de casal em crise: melhor assim que viver brigando, o amor acabou, a vida continua, muitos dos seus coleguinhas são filhos de pais separados e são felizes e dá-lhe convencimentos...

Não adiantou muito. Àquela época, criança que era, restavam muitas dúvidas na sua cabeça, talvez não persistam mais (a vida gira!), mas isso já não me importa nem um pouco, tenho outras preocupações e sei que tentei e tento fazer o melhor, óbvio, que nem sempre consigo. Se erro ou não, há Nietzsche para me salvar.

Além do que, essa mania de filho achar que mãe é heroína é muito chato, somos o que somos, seres humanos com qualidades e defeitos e Freud e Deus e tarjas pretas tão aí pra qualquer crise pior.

O fato é que lá se vão 7, 8 anos (?) que me separei, perdi até a conta, Júlia já é quase uma moça e, hoje, quando perguntam a ela (imbecis existem!) sobre a possibilidade de viver com o pai e a mãe juntos na mesma casa, ela descarta e já não se reconhece como filha de um casal, mas de pessoas que se amaram e a procriaram, mas, finda a relação, tocaram seus rumos, cada um para o lado escolhido.

De todo modo, tive a sorte de, tempos passados, divórcio realizado, novo casamento de Júnior e a paz foi selada.

Já há muito tempo, tenho uma relação de paz e respeito com meu ex, afinal, quando se tem filho e se odeia barracos e brigas, faz-se necessário engolir alguns sapos, tocar em frente e viver da melhor forma com ex, mulher de ex e filha de ex: de todos é à Biba a quem dedico a minha maior porção de amor (é adorável e irmã da minha filha: como não amar?).

Atualmente, meu ex se hospeda de mala e cuia na minha casa quando vem à Brasília, traz a outra filha, conversamos, bebemos juntos, ainda que mantida uma certa formalidade, e temos a melhor relação possível das “sobras” de um casamento que gerou o meu tesouro, minha filha, a "nossa" filha.

É verdade que, vez em quando, atritos existem, namorados que não aceitam, já que um ex em casa, “dormindo sob o mesmo teto? Claro que isso não dá!”. Aí se explica, conversa e se percebe que uma relação construída com amor, ainda que finito, não pode incluir desamor, há que se ter o mínimo de harmonia e amor fraterno.

Ah! E tem umas piadinhas: - Hum, então vocês são amigos? Ainda deve ter alguma coisa entre vocês! Bom, mas os idiotas e as idiotices a gente deixa de lado.

O fato é que estou tratando desse assunto porque, hoje, Júnior está hospedado aqui em casa, com todas as “obrigações” advindas da hospedagem de um amigo: buscar, levar, conversar, trocar ideias.

Enfim: filha feliz; eu, nem triste nem alegre, apenas eu mesma, tentando a sabedoria de viver com harmonia. E só!


O amor vem primeiro

Luciano, meu irmão amado, me encaminhou hoje, após ler o blog: "36 anos e te conheci nesse blog! Gostei muito, esqueça o do Reinaldo!"

Como ele é filiado ao DEM, havia indicado, além do meu blog , o do Reinaldo Azevedo, mas lá em casa o amor vem primeiro que a política, então, tio Rei, não é que ele preferiu o meu ao seu? hahahaha

terça-feira, 25 de agosto de 2009

EIS-ME AQUI!


Eu tive uma tia, quer dizer, tia do meu pai, que morreu aos 99 anos.

Sempre me indagava o que a mantinha tão firme na vida, diante da iminência da morte que a rodeava. O que espera alguém com essa idade,
qual o sentido da vida quando se está tão próximo da morte?

A bem da verdade, não que nós, por óbvio, desde que nascemos, com a mais tenra idade, não estejamos sujeitos a morrer a qualquer momento, mas uma pessoa com quase 100 anos, encontra-se num beco sem saída.

E o que faz alguém prosseguir? Com 100 ou com qualquer idade?

A meu ver, a grandiosidade (ou seria pequenez?) do ser humano começa aí, em continuar a viver, de forma lúdica, os dias que lhe são dados, a despeito de tudo.

Acho que a gente vive "brincando" de viver. Tudo fazemos em torno disso: se somos pobres, precisamos brigar, ir atrás do pão para comer; se deixamos de ser pobres, achamos outras necessidades pra nos justificarmos; se somos poetas, queremos mais poesia; se somos intelectuais, queremos ficar mais sábios; se somos órfãos queremos pais; se não somos pais, queremos filhos; se somos de Brasília, queremos concursos; se somos Sarney, queremos poder; enfim, vamos buscando “lutas” para nos justificarmos na vida.

Entretanto, há aqueles que não querem nada e partem cedo ou tarde ou quando querem: esses são mistérios que não queremos entender ou se quiséssemos mesmo iríamos atrás da verdade e lá ficaríamos.

Eh! porque se o bicho ser humano fosse mais desgarrado, diante da primeira inquietude dele ou do Senado, ele poria um fim, e não é pra encontrar um paraíso como os terroristas, mas para deixar de lado eternamente essa angústia da incerteza do nada.
Aliás, eu acho essa questão do livre-arbítrio do ser humano uma grande besteira. Que livre-arbítrio? A grande maioria da população mundial passa fome, como alguém que passa fome pode ser livre?

E aqueles bem-aventurados, saciados, podem ser livres? Dizem que sim, mas duvido: como alguém que, de 2ª a 2ª, tem todo o seu cotidiano demarcado pode ter livre-arbítrio?
E a classe média – baixa, média ou mínima – sempre querendo mais e caindo menos ou mais, busca o quê? Também a felicidade ou a realização ou o entendimento ou nada mesmo?
Como alguém preso em si mesmo e no mistério de ser gente encontra saída, seja pobre, médio ou rico, seja sábio, burro, feliz ou infeliz?
São tantas as perguntas que chega a ser ridículo e quando rememoramos Shakespeare, com Hamlet, parece até coisa de criança: “Ser ou Não Ser: Eis a questão”.
Na verdade, eu acho que, excluindo uma pequena palavra do texto bíblico, temos a mesma questão: “EIS-ME AQUI, SENHOR!”. Tiremos o “Senhor” e tudo fica igual: EIS-ME, AQUI!
Sempre achei bárbara e contundente essa frase, resume tudo. Aliás, já pensei até em tatuar, escrever bem grande na minha testa. E para quê? Nada também!
Aí me justifico: - Já tenho 3 tatuagens e não pode ser em número ímpar, teria que fazer outra e outra e não tô muito a fim, aí, hehehe, adivinhem? ?????????

Continuo a brincar de viver. E tudo fica mais simples e mais bonito. É só não ter resposta, não perguntar, continuar brincando...com ou 1 ou 100 anos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

ENTREGA

Felicidade caminhando lenta em minha direção
durmo vinte e quatro horas para retê-la.
Nos sonhos, ela é minha,
tal qual agora, à luz do dia,
porque não vou saltar dias
e continuar perdendo vida
Sem me achar.
Eu correrei
um andar feliz
Que me carregue pra perto do mundo
De mim,
E da vida que me puxa.
Eu vou...

sábado, 22 de agosto de 2009

DECIFRA-ME ou DEVORO-TE

Tenho acompanhado a polêmica sobre a legislação que limita o uso de
cigarro em São Paulo, inclusive, ontem, vi que a Advocacia-Geral da União emitiu parecer pela inconstitucionalidade da lei estadual, ou seja, talvez não dure muito por questão meramente formal.

Deixando as filigranas jurídicas de lado, também vi opiniões diversas, favoráveis e contrárias, de médicos, professores universitários, jornalistas e até de Antônio Fagundes, que disse numa matéria da Folha que iria “peitar” a lei, porque precisava encenar uma peça que havia um fumante em cena (e a liberdade de expressão no teatro, ambiente fechado, como fica?).

Bom, já fui não fumante, fumante, não fumante, enfim, algumas idas e vindas no vício, atualmente, fumante, e, ainda assim, absolutamente favorável à limitação do uso de cigarro a ambientes abertos. Ninguém tem que ser obrigado a aguentar o fumacê dos outros.

Aliás, pudéssemos escolher, nós não fumaríamos em nenhum lugar, deixaríamos o cigarro para sempre, porque é horrível a escravização da vontade e o cigarro aniquila a nossa vontade, aliás, qualquer vício, mas dizem os especialistas que o cigarro ainda é o vício mais difícil de se combater, diante da fidelidade do fumante.

Na verdade, comecei a fumar já velha, à época da faculdade de Psicologia, quando já tinha meus 23 anos, normal que era o uso de cigarro naquele ambiente, até fazia parte do status dos futuros psicólogos, embora já tivesse dados uns tragos eventuais com uma prima, fumante desde sempre e feliz, sem nenhuma pretensão de deixar o vício.

Mas, começar a fumar mesmo foi à época da Psicologia e o vício me pegou.

Parei uns dois anos depois, antes um pouco da gravidez de Julinha. Fiquei uns anos sem fumar, acho que uns 3, depois voltei a fumar de vez em quando e acabei de novo viciada. Parei de novo uns 3 anos e voltei a fumar prestes a me mudar pra Brasília, Natal de 2006, entediada com a data que sempre me entristece (desculpa esfarrapada de fumante!).

Nos últimos 3 anos de vício, já parei 1 mês, 2 meses, 1 semana, dias, um dia e por aí vai, sempre parando no domingo e retornando na 2ª à noite.

Dito todo o calvário, sei e sinto os prazeres do cigarro, mas que é um saco ser viciada, isso é!

Primeiro, a questão da saúde, irrefutável, principalmente com meu currículo de 3 pneumonias, bronquites, o chamado “pulmão fraco” desde pequena e ainda fumante; depois, tem a questão da vaidade: adoro óleos, cremes no corpo, ficar cheirosa e isso é impossível sendo fumante, tanto é difícil que tomo milhares de banho ao dia, escovo os dentes milhares de vezes ao dia, lavo o cabelo todos os dias e o cheiro (?) continua lá, firme e forte.

Além disso, tenho Júlia que, felizmente, detesta cigarro e vive me perguntando: - Mamãe, você quer virar caveira?

Ah, sem falar na minha outra família, eu, a única Janis e fumante, imagine o que eu aguento!

De todo modo, andava tranquila porque, como meu ex-namorado era fumante, a gente se suportava nos cheiros e era maravilhoso fumarmos na varanda juntos, conversando, bebendo, namorando, era tudo de bom!

Mas, agora sozinha, bem mais solitária, voltei a ter, paradoxalmente, a firme convicção de ter que, definitivamente, deixar os cigarros antes dos 40 porque eu quero e devo, sem necessitar da intervenção do Estado.

PS: O título foi sugestão de Júlia, minha filha sabida!

21 de agosto de 2009: lideranças e outros impróperios

Festa tardia em homenagem ao dia dos pais no meu trabalho: como sempre, aquela chatice, mas honrando as calças e as saias, resolvo ir.

Homenagem feita, retorno pra casa, e, infelizmente, tive a infelicidade de visitar um dos pub's da capital. Triste ideia.

Entrei, paguei 15 reais (meia) pela entrada, música péssima, resolvo ir embora e o drama começa.

Como a fila estava enorme, passei pelo fumódromo, para dar um tempo para pagar e me mandar, afinal, de música chata me bastava a seleção estilo Léo Jaime e Cia que aguentei na "minha" festa.

Engano total, no Brasil ou em Brasília não é tão simples assim. Fila grande, em torno de umas 10 pessoas entram na minha frente, "furando" a fila descaradamente. Como cidadã que sou e talvez mais velha, não me permito suportar determinadas situações: disse, em alto e bom tom, para animar todos os macacos passivos, que aquilo era impossível de acontecer num país que se pretendesse uma democracia, blá, blá, blá... Insatisfeitos, os ditos cujos, me ofenderam da melhor ou pior forma possível, desde "mal amada" a outros impróperios que o meu blog ou eu mesma me proíbo de mencionar.

Na fila que se prolongava, apenas um homem jovem, mulato (não por acaso, acho eu), levantou a voz e se dirigiu ao segurança, exigindo respeito à fila, o qual quase espancado, voltou ao seu lugar, reclamando e esbravejando, sem poder nada mais fazer: o segurança não lhe deu a menor atenção.

Eu também, diante da situação, exigi, no mínimo, respeito e uma melhor observação quanto à fila que se formava para que não houvesse uma confusão daquelas, já que as pessoas não se orientavam da f0rma que deveriam.

De novo, recebi os piores insultos, mas ameacei, briguei, xinguei, chamei todos de Sarney's, uma vez que, pelo visto, na primeira oportunidade que tivessem, fariam tal qual aqueles que criticavam.

Riram, gargalharam de mim, porque, segundo alguns deles, votaram no Lula (ou seja, estão isentos de qualquer crítica): -Então tá me comparando a Sarney, sua mal amada? Só porque tô na sua frente? Quer pagar na minha frente, tá apressadinha, eu deixo você passar...

Brasília, agosto de 2009, me aquietei, paguei minha conta, voltei pra casa e, triste, não me reconheço como cidadã, eu sou apenas mais uma que briga e não é ouvida, quase um mercadante, afora a liderança que não entreguei, não recebi e não recuei.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Rosa

Noite cheia
passam ondas abarcando
três mulheres
Eu
Nenhuma delas.

Afasto-me
quieta
e percorro aquela casa de taipa no sertão
fonte seca
e um menino.

O velho já lá atrás de mim.
Corro.
Quero alcançar
apenas aquela árvore seca
com raízes
arrastadas
enrugadas
no chão seco que abarca todos nós.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A meio do caminho...


“A meio do caminho desta vida
Achei-me a errar por uma selva escura,
Longe da boa via, então perdida”.
(Dante)

Com que propósito vim mesmo para Brasília? O que faço aqui? Porque continuar aqui?

Tenho feito, repetidamente, essas indagações nos últimos dias. Não encontro uma resposta sensata como eu gostaria, já que somente o meu coração responde e coração é coisa com que se brinca e se vive e se alegra.

Mas não tô pra alegrias nem pra brincadeiras, tô mais pra tristeza e seriedade, no singular!

É que eu tô me tornando chata mesmo e tudo tem ficado meio cinza ou azul demais pro meu gosto nos últimos dias.

É casa que não se vende, dinheiro que não chega, apartamento que não te quer, filha que quer ficar, namorado que não quer voltar e dá-lhe agosto.

Não tô pra choramingas, aliás, tô, mas acho que quero decisões e como é que libriana decide quando não quer decidir se quando quer decidir já é tão difícil, imagine quando sequer sabe se quer decidir. Entendeu? Eu também não.

Bom, quando me mudei pra Brasília, tudo tava lindo, até me perder infinitamente na Asa Norte de 1h às 4h da manhã, rodando igual uma barata nessas tais de – esqueci o nome – seguir desconhecido que me trouxe sã e salva pra casa, e eu, dia seguinte, rua de novo, perdida de novo e me achando a própria Janis reencarnada...

Tempo passando, Niemeyer ficando velho, eu também, lá se vão quase 3 anos aqui e já não sei se fico, se vou, se não fico, se não vou. Coisa de lamparina, ops, libriana.

Hoje folhei o edital de remoção, tenho a possibilidade de me mandar de novo, porque, como meu emprego é federal, passados 3 anos de “enjôo” de lugares, dá-lhe, mudamos de novo e o circo continua.

Pensei: porque não João Pessoa, cidade pequena, arborizada, barata? Floripa? Ilhéus (ah, porque Itacaré é um pulo!), Salvador de novo? Palmas de novo e, até, arg, Goiânia de novo?

Mas meu rebento teima em adorar Brasília e, como mãe quer culpar filho e filho quer culpar mãe, eximo-a desde já, porque também, buá, quero ficar.

Mas tá tudo sem andar, tudo igual como nos outros lugares. Mudamos os lugares ou mudamos nós ou não muda nada ou só somos carregados?

Antes até saía à noite sozinha, embora a prosa ruim que aguentava porque a mentalidade é a mesma: homem sai sozinho, senta sozinho numa mesa, mas é mulher fazer isso e começa bobo a agir como bobo mesmo, mas até aguentava e não arredava pé, mas agora cansei, sobretudo cansei de não ter amigos (ou ter pouquíssimos), ando muito só, às vezes é ótimo, mas às vezes não é tão bom assim. E os programas? cinema, pub, ver a lua daqui de casa, um show (de novo Zeca Baleiro?), ver a ponte JK kkkkk...(só 500 milhões de reais?) e dá-lhe Brasília com o que redime tudo e todos: o CÉU.

PAUSA.

Minha filha se aproximou, “curiando”, leu e disse: - credo, mamãe, como você tá depressiva!

Bom, não é que estou mesmo? Paremos. Vamos deixar Brasília ou me deixar um pouco de lado. Por enquanto, fico.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A CAMISETA

Ainda há pouco li uma matéria que noticiava a morte de uma moça em Fortaleza que pagara 500,00, um laptop e camiseta nova para um ambulante matá-la porque se encontrava bastante endividada.

Talvez a camiseta fosse a questão de somenos importância no contexto todo da história, entretanto, convenhamos: as pessoas têm o direito de se matar ou de pedirem alguém para "fazer o serviço".
Da mesma forma, não deixa de ser tristíssimo encontrar alguém disposto a fazer "um serviço" desse nível, embora seja comum em alguns recantos desse Brasil.

Mas, o que me chamou a atenção mesmo foi o pedido da camiseta nova.

Eu cogito que talvez o matador não quisesse ficar sujo por medo de ser pego pela polícia, por nojo, por não querer carregar o "peso" daquela morte estampada na sua roupa e perto do seu coração, a lembrar-lhe o ato insano que cometera, mas poderia levar uma camiseta sua... não, ele não quis, ele queria uma camiseta dada pela "suicida".

Porém, como terá sido a negociação? - Bom, eu faço o serviço pelo preço "x", mas quero uma camiseta nova. - Tudo bem, a camiseta é o de menos, compro já, já.

E lá se foi a moça, 38 na bolsa, a morte se avizinhando, entra na loja, compra a camiseta: - Qual a cor? - Azul. - Tá boa esta aqui? - Deixa ver, tá, tá.

Saem da loja, pegam a estrada, rumo à casa de praia, morte programada na varanda, frente ao mar, abre os braços, tiro dado, serviço cumprido.

O ambulante troca de camiseta, de fato, alguns respingos de sangue haviam ficado na anterior, deixa o revólver, vai para a parada, pega o primeiro ônibus, segue olhando o mar e, involuntariamente, lembra-se do rosto da moça, sacode a cabeça e abre o laptop.

sábado, 15 de agosto de 2009

A Arte de Recomeçar, João Pereira Coutinho (Folha, nov./2007)

De novo, com inspiração lá no oantropolicomaltrapilho.blogspot.com, posto um texto lindo de outro João:
..................
OS PESADELOS acontecem.
Uns tempos atrás, um conhecido escritor português contava-me que, chegando ao aeroporto de Caracas, o seu laptop foi roubado sem deixar rastro. Mas o pior não foi o laptop. Nunca é. O pior foi o conteúdo do laptop: um romance original, ou uma parte generosa dele, que só existia no computador. Nenhuma cópia de segurança em casa. Nenhum manuscrito. Nada de nada capaz de compensar a perda absoluta. Meses de trabalho, anos de trabalho, perdidos em segundos.Ouvi o infortúnio com certo horror e fascínio. E depois recordei a mais bela história intelectual da Inglaterra do século 19, que sinceramente me comove até às lágrimas.
Aconteceu com Thomas Carlyle, o notável historiador escocês, tal como ele a relata nas suas memórias. Durante anos de intenso labor e habitando uma pobreza excessiva, Carlyle completara o primeiro volume da sua história da Revolução Francesa. Contara com a ajuda do filósofo John Stuart Mill, que emprestara livros e dinheiro. E quando Stuart Mill, no final da odisséia, pediu de empréstimo o único manuscrito do trabalho para ler, aquele manuscrito que consumira a saúde e a juventude de Carlyle, este o emprestou, grato e honrado.Foi uma hora funesta.
No dia seguinte, Mill regressava, branco como um fantasma, para comunicar que o manuscrito fora acidentalmente consumido pelas chamas.
A descrição que Carlyle nos deixou nas "Reminiscences" ainda hoje emociona qualquer cristão: o estoicismo com que a notícia é recebida, apesar da mortificação interior; as três horas de conversa esforçadamente banal, como se fosse Mill a necessitar de consolo; e quando este deixou finalmente a casa do historiador, para infinito alívio do casal, a mulher de Carlyle, incapaz de fingir normalidade, abraçando um homem destroçado e chorando com o dramatismo que apenas concedemos às óperas clássicas. E as palavras de Carlyle, finalizando a cena, dirigidas a um Deus em que ele, para tragédia sua, não acreditava.
Mas a história não acaba aqui. A história acaba na minha estante, quando folheio, com uma reverência absoluta, a sua história da Revolução Francesa. Porque, depois da notícia das chamas, Carlyle sentou-se à mesa e recomeçou a partir das cinzas. Cada palavra, cada linha. Cada página.Hoje, quando releio esse monumento de erudição, paixão e estilo, não encontro apenas um dos mais poderosos relatos sobre a glória e a miséria de 1789: as aspirações igualitárias e libertadoras da Bastilha que terminaram, como usualmente terminam, no terror das guilhotinas.Encontro a evidência de que a nobreza do espírito humano não está na coragem com que recebemos o infortúnio. Mas na forma como o recebemos e, apesar de tudo, somos capazes de continuar. Mesmo quando o mundo nos parece perdido.
Livros de auto-ajuda? Sim, leitores; afinal, eles existem. Nas minhas piores horas, olho para esse volume aparentemente anônimo entre tantos volumes anônimos e há uma gratidão silenciosa e interior que me faz, tantas vezes, recomeçar.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

DIAS DE SETEMBRO, em prosa

Nunca soube a origem da expressão "dias de setembro": se fui eu que inventei, se li em algum lugar e adotei por afinidade, embora considere essa última hipótese a mais provável.

O fato é que agosto e setembro foram meses que me marcaram de forma muito negativa, diante de acontecimentos ruins que me aconteceram nesses meses, em épocas já distantes da minha vida, graças a Deus, mas que se reverteram posteriormente de tal modo que trouxe uma marca profunda na minha alma.

Tudo começou quando em setembro lá atrás, meu pai foi diagnosticado com um câncer incurável, que o mataria fatalmente em um ano.

Esperamos, adolescentes e crianças que éramos, os irmãos (5) e minha mãe, essa morte anunciada.

Eu me lembro que sentia uma urgência de fazer alguma coisa que pudesse deixar meu pai orgulhoso de mim, mesmo depois de morto. Não consegui, nada há que uma criança possa fazer de tão importante assim, no plano material, pelo menos na minha cabeça de criança ansiosa e angustiada, frente àquela situação.

Desisti... então comecei a rezar, fiz promessas, devidamente cumpridas e nada do nada passar...

Foi aí que a mão milagrosa do tempo (e o quê mais?) intercedeu, e meu pai, de repente, já não tinha nenhuma foice em sua cabeça, estava livre. A bem da verdade, ele nunca deixou de ser livre, porque continuou a ser ele mesmo, ainda que com todos esses prognósticos...triste mesmo ele ficou somente com a morte de sua irmã mais velha que havia sofrido muito com o vaticínio dado a ele. Coitada, ela partiu primeiro!

Hoje, quase 20 anos passados de cirurgia, acrescentadas mais duas no currículo, um acidente de carro, 75 anos, ele talvez possa ser considerado, para além de um homem de sorte, um homem marcado para viver.

Já em outro setembro da minha vida, passei pelo que hoje considero também um divisor de águas. Tive uma crise de depressão que me derrubou e me ressuscitou para a vida. Não entro em detalhes, porque ainda hoje as lembranças daqueles dias imersos em tristeza, insônia e dor não são coisas de que se fale assim, já iniciada a madrugada. Falaremos disso depois, à luz do dia, a noite sempre é soturna e maximiza as coisas.

Foram esses os dias de setembro que lá ficaram e que ainda carrego comigo...

AS HISTÓRIAS DE HELENITA

Helenita morava lá numa fazenda do Tocantins, no meio de um cerrado, com um rio ao fundo da casa, curral e um vasto quintal para a criação de aves, além das plantas típicas do cerrado, frutas de época, rosas e uma pequena horta. Um pequeno paraíso.

Eu, de férias, numa das viagens do meu irmão a trabalho, fui parar lá.

Cheguei ao lugar, passando por dois córregos, ainda com algumas matas virgens, mas, em outro trecho da estrada, vi, entristecida, quando o carro desceu feio numa ribanceira, um cemitério de rio que se prolongava em linha retilínea, numa extensão de barro endurecido por todo aquele local ainda fundo, onde restara pó e um pouco de mato ralo ao redor.

Meu irmão, conhecedor do local, disse que ali havia sido, de fato, um rio, ou melhor, um córrego bem grande, onde, inclusive, em época de chuva, transbordava...hoje não restava sequer uma gota d’água.

Seguimos em frente, e, após umas duas horas, chegamos a tal fazenda, onde meu irmão foi fazer um trabalho de campo. Sem poder seguir com ele, tive que ficar por ali. Sentei num banquinho de toco de madeira, comecei a fumar, no que se aproximou Helenita e me pediu um cigarro.

Sentou ao meu lado e começamos a conversar.

Helenita era uma mulher que, não fosse a pobreza e a falta de cuidados, poderia ser considerada linda. Era morena, cabelos e olhos pretos, nariz desenhado, corpo bem feito, enfim, uma mulher bonita, a despeito da simplicidade. Tinha também um quê de languidez, aumentada pela maneira que conversava, com um sorriso cheio de sensualidade.

Era o seu segundo casamento. Esse último marido se chamava Messias. Não pôde ter filhos, tampouco sentia falta:

– Deus num quis, num me importo. Tenho o utro seco.

Vivia de maneira solitária, só com o marido, os cachorros, já que vizinhos só dali umas 5 léguas.

Disse que gostava muito de conversar, ao contrário de Messias, fato que a levava a conversar sozinha, consigo mesma, principalmente quando estava no rio, lavando vasilhas ou roupas, chegava a dar grandes risadas das histórias que lhe vinham à cabeça:

– Mesmo sozinha, Helenita?
– E o que é que tem? É sozinha... quem não tem cão caça cum gato.
– Mas você ri de quê?
– De um tudo, me alembro de história até deu piquinininha.
– E você só ri ou chora também? Lembra de alguma coisa triste?
– Ichi e demais, me alembro sem querer alembrá, mas essas coisas de vida num tem jeito, fica lá ispizinhando a gente.

Então, contou que o seu outro companheiro tinha morrido:
– Ah, então, você é viúva?
– Não, num sô não, eu era, num sô mais.

Foi quando contou que o seu outro companheiro havia se matado:
– Morreu de formicida tatu, ele tomou tanto que dava pá matar uns três dele, entonce, ele queria era morrê mermo. Ele num pensô ni mim.

Adiante se foi a história, mas Helenita não guardava lá grandes dores não:
– Deus num perdoa ele porque ele morreu de mal ruim, tudo por causa de bobagi de ciúme, num pudia vê eu conversando com ninguém. Ele é que acabo, eu tô aqui vivinha.

Disse não sentir remorsos, porque não teve culpa, ele assim escolheu. Relatou que, a princípio, começou ficando doida, correndo no cerrado, até por dois dias seguidos, como se aquilo pudesse aliviar sua dor, mas quando voltava pra casa, começava tudo de novo. Deu pra beber também, mas o que lhe restava no dia seguinte era só dor de cabeça. Por uma época, passou a rezar todos os dias, enfim, fez tudo o que pôde, mas a danada era mais poderosa.

Pereceu nessa labuta bem uns três anos, mas quando conheceu Messias parece que sua vida havia começado de novo, sentia uma alegria...que ficava perguntando o quê era aquilo.

Dias indo, dias vindo, ela ali trabalhando de vaqueira com o marido, nem sempre sozinha nem sempre acompanhada, e o mundo parece que já era outro, sua vida de hoje não era mais aquela, ela era outra.

No caminho de volta, conversando com meu irmão sobre Helenita, ele diz:
- Você deu conversa pra ela? Aquilo é doida de pedra, nunca teve marido morto, ela vive inventando história.

sábado, 8 de agosto de 2009

O ASSALTO QUE NÃO FOI

Lendo um artigo hoje do João no oantropolicomaltrapilho.blogspot.com, no qual ele faz uma reflexão sobre o preconceito, lembrei de um fato, quando, recém chegada à Brasília, fui visitar uma prima que mora em Planaltina.
Sem saber me locomover direito aqui, errei o caminho e fui parar num setor de chácaras de Planaltina, local meio ermo e pra mim totalmente desconhecido. Já preocupada, depois de andar muito sem saber onde estava, vi dois rapazes jovens, no que me aproximei e perguntei onde estava e como faria pra sair dali, etc. Os rapazes, educamente, me informaram tudo o que eu queria saber e senti um alívio.
No que eu estava saindo, um dos rapazes me perguntou se eu poderia levá-los até um deteminado local, onde eles iriam ficar. Num átimo, ainda que preocupada de dar carona pra dois desconhecidos, principalmente por estar acompanhada da minha filha, respondi que sim.

Eles sentaram no banco de trás do carro, conversamos algumas bobagens e me bateu, não vou mentir, um medo de que eles fossem marginais e cometessem algum assalto ou violência conosco.

Mas não, chegando ao local que ficariam, desceram, agradeceram e repetiram o caminho que eu deveria seguir dali em diante.

Chegando à casa da minha prima, todos me deram uma bronca, dizendo que foi "maior perigo" ter dado a carona àqueles moços.

De fato, fiquei pensando que talvez tivesse corrido um risco, mas eles foram tão gentis que eu não poderia recusar uma carona, seria um absurdo da minha parte não auxiliar alguém que havia acabado de me tirar do sufoco.
Ninguém se convenceu e eu prometi não repetir mais o feito.
De todo modo, fiquei me perguntado sobre esse comportamento nosso de achar que todo desconhecido e morador de um local mais empobrecido possa ser marginal.
Ainda hoje, quando conto essa história, me falam: - Você poderia ter sido assaltado ou até violentada. Certo? Só que "poderia", mas não fui, os rapazes eram gente do bem.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

DOSTOIÉVSKI – AS SEMENTES DA REVOLTA (1821 a 1849), Joseph Frank


Acabei de ler esse que é o primeiro volume, dentre cinco, sobre Dostoiévski.
A quem se interessar, transcrevo a resenha da EDUSP sobre o livro (não vou falar sobre porque correria o risco de falar bobagens, deixo a resenha lá pros prof., quando eu for "grande", quem sabe?):
"[...] é o primeiro de uma série de cinco volumes dedicados à biografia do grande romancista russo que a Edusp pretende editar em sequência. Mas o ambicioso e magistral trabalho de Joseph Frank é bem mais do que uma biografia convencional ou um estudo de 'vida e obra' como tantos outros. Baseado em profundo domínio das fontes históricas e em exaustivo uso de toda a sorte de documentos e informações sobre (correspondências, memórias, testemunhos, críticas), Joseph Frank constrói o perfil do artista em formação, articulando os dados do ambiente sociocultural em que ele viveu com as ideias, valores, sentimentos e conflitos que moldaram sua personalidade, e as influências artísticas e intelectuais que formaram seu pensamento e seu estilo. Observando a vida de Dostoiévski pela óptica de sua obra, Joseph Frank pretende levar o leitor a compreender, na qual a vida se transforma em arte”. E, com isso, deixa no leitor a impressão de conhecer intimamente não só o homem, mas principalmente o escritor Dostoiévski, seus personagens, suas obsessões e seus temas.
[...] trata dos primeiros anos da vida de Dostoiévski: o ambiente familiar em Moscou; a formação cultural e religiosa que teve tanta influência em sua literatura da maturidade; o dilema entre a vocação literária e a carreira militar à qual lhe destinara o pai; as raízes de seus laços de amizade, especialmente com o irmão mais velho Mikhail; a mudança para São Petersburgo; os primeiros contos e novelas, e seu retumbante ingresso nos círculos literários da cidade, a partir da entusiasmada acolhida que seu primeiro romance, Pobre Gente, recebeu de Vissarion Bielínski, o todo-poderoso crítico da literatura russa de meados do século XIX. Descrevendo a trajetória de Dostoiévski pelos círculos literários de São Petersburgo, Joseph Frank traça um quadro dos debates culturais, literários, políticos e ideológicos da época, a progressiva perda de influência do romantismo e a ascensão do realismo, a polêmica entre o socialismo utópico e o hegelianismo de esquerda, e seus efeitos na vida cultural e política do período. São especialmente importantes na sociedade, nos meios intelectuais e no pensamento de Dostoiévski, nesse momento, a campanha pela emancipação dos servos e os primeiros contatos com as idéias socialistas, vindas da França, por intermédio das obras de Saint-Simon e Fourier e dos romances 'sociais' de escritores como George Sand e Victor Hugo, entre outros. A influência desses romancistas, ao lado da de Gógol e Púchkin, especialmente, na obra de Dostoiévski é analisada à medida que Joseph Frank reconstrói suas chamadas 'novelas de juventude', como O Duplo, Noites Brancas, Niétotchka Niezvánova e o precioso conto Prokhartchín. Relata também seu envolvimento com as atividades políticas de um grupo revolucionário secreto, que originou sua prisão e condenação ao exílio na Sibéria.
Como biógrafo e historiador consciencioso, Joseph Frank não poderia deixar de abordar a conhecida tese de Freud sobre Dostoiévski, publicada no famoso artigo 'Dostoiévski e o Parricídio', dedica um Apêndice do livro especialmente para discutir as conclusões de Freud, refutando-as, 'no interesse da verdade histórica', com os elementos biográficos levantados em seu estudo de mais de vinte anos sobre o romancista.
O que mais impressiona no livro Joseph Frank é que, apesar da enorme massa de documentos e informações de que ele se vale, em momento algum o texto transparece vaidosa erudição ou estende-se em discussões teóricas. Ao contrário, o livro adota um tom irônico, outras, emocionado e caloroso, mas sempre vivo, elegante e de leitura fluente e acessível."

A tradução é de VERA PEREIRA.



Blogs, terapias, tarjas pretas, caras e EU

Uma amiga hoje, perguntou: - o blog serve mesmo pra quê? - É como um site, pra escrever o que se quer, respondi.

Na verdade, escrever num blog, todos os dias ou vez e outra, serve para o "quê" mesmo?

No meu caso, inicialmente, achei que talvez fosse um modo de me disciplinar para escrever (habituar-me a escrever com mais frequência), falar do que me viesse à cabeça, desafogar das minhas mágoas e do cansaço de outras atividades, postar minhas poesias, etc.

Mas, se bem avaliarmos a questão, ela é bem mais profunda, não chega a ser oceânica, mas dá uma boa terapia, a depender da sua propensão à psicanálise/psicologia ou até uns tarjas pretas lá no Dr. Raphael.

Isso porque, conforme elenquei aí encima, os motivos que me levam a escrever poderiam ser satisfeitos diretamente numa pasta de word, já que poderia escrever e arquivar, e, vez ou outra, poderia olhar, respirar fundo e me dar por satisfeita.

Não, não é bem assim: na verdade, acho que quero mesmo é ser vista, ou melhor, lida, ainda que tenha passado o meu blog pra umas 8 pessoas no máximo, que poderão passar pra tantas outras...também, se quiserem, podem me achar no google hehehe...e eu na fita, pois não é, sua sabida?

De todo modo, talvez seja uma forma de desabafar num "consultório universal", compartilhando meus sentimentos com pessoas diversas, conhecidas ou desconhecidas, não interessa (nossa, tá piegas isso!).

Porém, pode ser que não se aplique qualquer teoria, seja uma vontade de me "amostrar", a minha "caras", sei lá, entende?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

CORONA, Paul Celan

Da minha mão o outono come sua folha:somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:
o tempo volta à casca.

No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca fala a verdade.

Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos,
dizemos-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio-sangue da lua.

Ficamos entrelaçados à janela, eles nos olham
da rua:

está na hora de saber!
Está na hora da pedra começar a florescer,
de um coração golpear a inquietude,
está na hora de ser hora.

Está na hora.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Circo, Marieta


Por onde andará Marieta?
Comprei este quadro dela há uns cinco anos, antes um pouco da sua mudança pra Natal, depois nunca mais a vi.
Saudades da Marieta...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

ACADEMIA...e O INFERNO ERA ALI.

Era outubro de 2008. Mês do meu aniversário, verão chegando, pós terminando, 2 meses sem fumar, enfim, eu me achando... então, resolvi que era hora de entrar numa academia. Fui logo pagando antecipadamente seis meses numa academia aqui perto de casa pra não correr o risco de fugir.

Não era das mais baratas, afinal no SW nada é barato, mas não era das piores, e, o mais legal, pertinho da minha casa, do tipo que se vai andando a pé sem nenhum esforço.

Então, primeiro dia, aquela dificuldade, música horrível, várias tevês ligadas, ou seja, o inferno era ali, mas a fim de me ver "igual" a todo mundo, aceitei as normas: - avaliação inicial boa: não precisa perder peso, altura boa, peso bom, mas é necessário reforçar a musculatura. Programa inicial: 15 minutos de bicicleta, 15 minutos de esteira, 2 séries de 15 de exercício tal, 4 séries de 20 exercícios X, 3 séries de exercícios abdominais, tantos disso, tantos daquele, UFA, só de relembrar, fico exausta.

Mas, era necessário ir à luta: precisava mudar, afinal todo mundo fazia academia e, não havia uma manhã que fosse levar Julinha à escola que não visse milhares de pessoas "uniformizadas", indo pro ritual mais comum hoje em dia: exercitar-se, e eu, naquele marasmo, a última pessoa do mundo, como o quê? - Serei como vocês!

Bom, lá fui eu...primeiro dia, segundo dia, terceiro dia, quarto dia...voltei a fumar!!! Como? Não era pra deixar de fumar? Bem que deveria ser, mas o stress da academia foi maior...continuei: quinto dia, sexto dia...não dava mais, porém ficava olhando aqueles moços e moças, todos felizes e fortes naquela academia como se fosse a casa deles, e eu, com vergonha até de chamar o instrutor, aliás, não sabia mexer em nada e só pra me acertar com os aparelhos já era um século...e, timidamente, lá ia eu pedir ajuda aos instrutores, nem tão dionísios assim...morrendo de vergonha de ser "a burra" daquele templo.

Até que, no sétimo dia, eu, a caminho da academia, roupinha de ginástica e tudo, passa um moço e grita da janela do carro: "GOSTOSA!" Ôpa, é comigo...fiquei rindo sozinha, achando bom um elogio logo cedo e que me deu força para chegar, firme e forte ao atendimento da academia e dizer: - Quero pedir a suspensão, tô com uns problemas aí, não tô podendo continuar. - Por quanto tempo? - Ainda não sei. - Ok.

Saí de lá, respirei fundo e fui fazer o que eu mais gostava: (não foi fumar, tá?) minha caminhada gratuita, pensando ou não pensando, sem fone de ouvido, sem música, sem tv, só vendo o céu, caminhando sem compromisso, corpo e mente andando juntos, mantendo a forma abençoada que já me foi dada de graça.

Agosto de 2009: nunca mais voltei lá.

domingo, 2 de agosto de 2009

RETRATO NA PAREDE

Alguém já passou três dias de cama, sem trabalhar, sem se alimentar, aos cuidados de Tia Lu, por amor?
Pois bem, eu já.

Tudo começou, à beira de uma piscina, numa festa com amigos comuns, ao permitir um trago do meu cigarro.

Tudo indicava que era uma paixão por afinidades, ele era filiado ao PCdoB, fingia gostar do que eu gostava, era charmoso, carismático e me deixei levar por esse sentimento que não sabia se se tratava de uma paixão, carência ou amor mesmo. Enlouqueci de amor -ou quase - por ele, de tal modo que o mundo poderia desabar sobre mim, mas se ele estivesse ao meu lado, tudo se tornava (de verdade!) maravilhoso.

Todavia, nada é assim de graça, e a tortura começou porque "o príncipe" não tinha nada de príncipe. Constatado isso, sofri muito, perdi minha dignidade, porque o amor não correspondido rouba rapidamente a tal dignidade e tudo o mais que dela advém, porque passamos a nos humilhar por qualquer migalha do outro.

E passamos a achar que temos a capacidade de alterar o outro, fazê-lo corresponder aos nossos sentimentos. E o coitado, óbvio, como é sabido desde sempre, não é obrigado a amar ninguém, por mais nobre que seja esse sentimento. É difícil entender, mas na vida é assim: as coisas acabam e ponto. O duro é compreender vivenciando a situação e, no meu caso (e de alguns outros milhares), a razão, temporariamente vinha, mas teimava em me abandonar nos momentos mais críticos.
Mas o tempo, ah! o tempo...................................................................o sol continua reinando, a terra continua redonda, a lua crescente continua linda, e, zap, já não somos o que éramos, e, adeus sofrimentos e amores não correspondidos.
Bom, o fato é que há cerca de um ano, reencontrei o moço numa festa, ele se aproximou, achando que talvez fosse Cristo e pudesse ressuscitar Lázaro e eu, educada que sou, disfarcei, conversei sobre amenidades, política (ele agora era filiado ao DEM!) e saí, com dois beijinhos e tudo.
Enfim, o sujeito não significava absolutamente nada mais pra mim, era apenas um sujeito a mais no mundo, ou, como diria Drummond, era apenas um retrato na parede da minha alma, porque os fatos ruins também são retratos, mas, diferente do poeta, o meu não doía mais.

sexta-feira, 31 de julho de 2009


DESCOBERTA DAS PALAVRAS (por Biba)
Júlia, minha filha, com saudades da irmã, liga pra Biba (Bárbara) e diz:
- Oi irmã, você tá boa?
- Tô. Que dia você vem aqui, rimã?
- Não sei, Bibinha, talvez no próximo feriado,
...........

(do outro lado, Biba fala com o pai:
- Papai, o que é feriado? - É o dia que você não tem aula, fica de folga.)
...........
- Rimã, você vem amanhã de manhã?
- Não, vai demorar mais um pouquinho... Bibinha, e as novidades?
............
(-Papai, o que é novidades? - É quando você fica na casa da vovó passeando, brincando, conhece a Ana Luísa...)
- Julinha, novidades foi na casa da vovó Concita.

ELEVADOR PRIVATIVO NA PORTA DO CÉU (parte I)

Conversando ontem com um colega e debatendo sobre o nosso destino de servidores do Judiciário, ele me saiu com uma tirada muito boa: "T., estamos condenados à infelicidade pelos nossos pecados de cada dia somente pelo fato de trabalharmos aqui nesse "complexo de julgadores", afinal um dos mandamentos do Senhor é 'não julgarás!'" .

Partindo essa pérola de um ateu, caí na gargalhada, rimos juntos, mas fiquei com essa indagação me cutucando, principalmente porque no dia-a-dia nos deparamos com um número de pessoas muito insatisfeitas naquele local.

Voltei, então, há mil anos atrás e me recordei que, já lá nos meus tempos de estudante de direito, eu me considerava uma estranha, um ET, tão diferente me sentia no meio dos estudantes daquela faculdade (eles não participavam de nada, fosse uma manifestação pró ou contra qualquer coisa, mas só se interessavam por aquilo que dizia respeito aos seus próprios interesses, era como se o mundo lá fora não existisse).

De todo modo, achava que era porque me encontrava numa cidade (Goiânia) com valores um pouco diferentes dos meus - mais tarde descobri que não era nada disso.

Ainda hoje me recordo - e olhe que minha memória é péssima - uma aula de sociologia política, na qual discordei de uma das teses, para além de reacionárias, idiotas mesmo, do professor, e ele, com sua cara dura e feia, disse: "você sabia que, com essas idéias, pode ser reprovada?"

De outra feita, numa eleição pra Reitor, na qual fiz campanha pro candidato da "ala esquerda" contra um professor da FD, quase me tiraram a camiseta de campanha que vestia em sala de aula.

Sem falar, ainda, num professor X que disse não poder criticar Hitler porque não estava lá pra saber verdadeiramente o que ocorreu (ah, tá...).

Aliás, foram tantos os episódios grotescos que me ocorreram naquele local que me perguntava sempre o que me levara a um caminho tão diverso do que imaginei pra mim...(o que me salvava era fugir pra biblioteca da praça universitária e ler tudo que NÃO fosse da área jurídica ou ficar conversando horas a fio com W. ou M. - por quem nutria uma paixão secreta).

Digo isso pra procurar entender "o pano de fundo" da seriedade (ou seria infelicidade?) que teima em fazer dos órgãos da Justiça um local tão diferente e sisudo: a começar pelas roupas travestidas "de pessoa jurídica" que somos obrigados a aturar e, justiça seja feita, já melhorou muito nesses anos todos!

O fato é que trabalhar com pessoas em conflitos, sejam emocionais ou jurídicos, deve ter algo de pecaminoso mesmo, como dizia R., haja vista sermos obrigados a lidar, infinitamente com processos que, como formigueiros, não acabam nunca, além de ter que lidar com deuses, semi deuses, quase-deuses e "gente', finalmente.

Não é tão fácil, porque a relação humano-divina humilha e espezinha os seres humanos, afinal deus não erra, não tem pecado, sequer original e nós, gente, continuamos na via Sacra. Jesus que nos socorra!