terça-feira, 25 de agosto de 2009

EIS-ME AQUI!


Eu tive uma tia, quer dizer, tia do meu pai, que morreu aos 99 anos.

Sempre me indagava o que a mantinha tão firme na vida, diante da iminência da morte que a rodeava. O que espera alguém com essa idade,
qual o sentido da vida quando se está tão próximo da morte?

A bem da verdade, não que nós, por óbvio, desde que nascemos, com a mais tenra idade, não estejamos sujeitos a morrer a qualquer momento, mas uma pessoa com quase 100 anos, encontra-se num beco sem saída.

E o que faz alguém prosseguir? Com 100 ou com qualquer idade?

A meu ver, a grandiosidade (ou seria pequenez?) do ser humano começa aí, em continuar a viver, de forma lúdica, os dias que lhe são dados, a despeito de tudo.

Acho que a gente vive "brincando" de viver. Tudo fazemos em torno disso: se somos pobres, precisamos brigar, ir atrás do pão para comer; se deixamos de ser pobres, achamos outras necessidades pra nos justificarmos; se somos poetas, queremos mais poesia; se somos intelectuais, queremos ficar mais sábios; se somos órfãos queremos pais; se não somos pais, queremos filhos; se somos de Brasília, queremos concursos; se somos Sarney, queremos poder; enfim, vamos buscando “lutas” para nos justificarmos na vida.

Entretanto, há aqueles que não querem nada e partem cedo ou tarde ou quando querem: esses são mistérios que não queremos entender ou se quiséssemos mesmo iríamos atrás da verdade e lá ficaríamos.

Eh! porque se o bicho ser humano fosse mais desgarrado, diante da primeira inquietude dele ou do Senado, ele poria um fim, e não é pra encontrar um paraíso como os terroristas, mas para deixar de lado eternamente essa angústia da incerteza do nada.
Aliás, eu acho essa questão do livre-arbítrio do ser humano uma grande besteira. Que livre-arbítrio? A grande maioria da população mundial passa fome, como alguém que passa fome pode ser livre?

E aqueles bem-aventurados, saciados, podem ser livres? Dizem que sim, mas duvido: como alguém que, de 2ª a 2ª, tem todo o seu cotidiano demarcado pode ter livre-arbítrio?
E a classe média – baixa, média ou mínima – sempre querendo mais e caindo menos ou mais, busca o quê? Também a felicidade ou a realização ou o entendimento ou nada mesmo?
Como alguém preso em si mesmo e no mistério de ser gente encontra saída, seja pobre, médio ou rico, seja sábio, burro, feliz ou infeliz?
São tantas as perguntas que chega a ser ridículo e quando rememoramos Shakespeare, com Hamlet, parece até coisa de criança: “Ser ou Não Ser: Eis a questão”.
Na verdade, eu acho que, excluindo uma pequena palavra do texto bíblico, temos a mesma questão: “EIS-ME AQUI, SENHOR!”. Tiremos o “Senhor” e tudo fica igual: EIS-ME, AQUI!
Sempre achei bárbara e contundente essa frase, resume tudo. Aliás, já pensei até em tatuar, escrever bem grande na minha testa. E para quê? Nada também!
Aí me justifico: - Já tenho 3 tatuagens e não pode ser em número ímpar, teria que fazer outra e outra e não tô muito a fim, aí, hehehe, adivinhem? ?????????

Continuo a brincar de viver. E tudo fica mais simples e mais bonito. É só não ter resposta, não perguntar, continuar brincando...com ou 1 ou 100 anos.