quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

As Estrelas

Saí ainda há pouco até a varanda pra fumar e eis que me deparo com um céu...oh, que céu!

Havia muitas estrelas brilhando, mas vi só algumas...como tudo mundo sabe pra se ver muitas, muitas estrelas, há que está numa roça distante onde não tenha tanta luz artificial como aqui na cidade grande.

Ao longe, voava um avião que ia todo piscando com luzes e avisando que iria passar...decerto ele estava era querendo imitar as estrelas, e elas, soberanas, nem se importaram.

Foi assim que, durante uns minutos, tive uma sensação de felicidade que deveria sempre estar comigo e com todos.

É uma sensação de estar inteira, completa, com um preenchimento de um vazio perdido nos rincões da nossa memória mais primitiva.

Fiquei parada. Joguei cigarro fora. Silêncio. Sorriso. Bem-estar. Doçura no espírito. Calor no corpo. Alegria.

Entrei pra dentro de mim e de minha casa com amor aos torrões pra dar e receber.

Chamei meu bem, declarei amor de corpo e alma...Dormi, sonhei, acordei. Escrevo.

Mas a palavra pode remediar o sentir? Alguém que me lê pode sentir o que eu senti? Ou mesmo se deleitar e querer sentir o que eu senti ao seu modo e ir procurar a estrela?

A palavra pode me ultrapassar e levar esse céu – com estrelas, avião e tudo – ao outro aí da varanda ao lado?

Ainda que sim ou que não, eu, metade gente, metade roça, metade céu, nem tanta terra, mas tanto sonho, vejo estrelas que me inebriam em dia de lua crescente, sem chuva, fevereiro, 2010, Brasília.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Eu, eu e tu, ele, nós e o Mundo

Moro só, tenho 48 anos, divorciei-me duas vezes, não tive filhos, não crio gatos ou cachorros e meu último namorado me deu um chute daqueles inesquecíveis.

Isso posto, posso dizer que ainda não sou feliz. Quando serei ou se ainda serei é a pergunta que me faço diariamente.

Acordo, trabalho, volto, leio, assisto à tv, vou ao cinema e a shows, curto algumas baladas, faço compras, viajo, retorno às segundas, chego aos domingos e tudo continua igual.

Igual ao que eu buscava aos 20 anos, com uma diferença não tão sutil: não sou mais jovem e o tempo corre, corre, e eu e meu corpo vão ficando pra trás ou já se adiantaram por demais na linha de chegada que espera todos nós?

Nesse último domingo, tentei refazer minha vida e procurar acertar doravante os enganos cometidos.

Primeiro, comecei ligando para uns amigos que há muito não via. Com toda a franqueza, não que eles sirvam pra nada, mas sempre se ouve e se fala com eles, os quais nos dão uma sensação, ainda que momentânea, de companhia.
Nos reunimos apenas eu, a Ana e o Célio. Conversamos, falamos de política, de novos músicos, de ótimas leituras e voltei pra casa e quando cá chego, quem eu reencontro? Eu, eu e tu, ele, nós e o mundo.

Não que eu cultivasse alguma ilusão de que, ao chegar em casa, a minha vida naqueles 100m² de pura solidão pudesse se desfazer em orgias de alegria, mas há uma torcida secreta no nosso âmago para que, de repente, como num lance de sorte – daqueles em que se vira milionário da noite para o dia ao riscar ridículos 6 números num pedaço de papel escrito mega-sena – eu pudesse transformar minha vida numa alegria perene.

Mas, como sabemos, ganhar num jogo é sorte e a nossa vida está para além da sorte: nossa vida é, acima de tudo ou mais que tudo, liberdade e nós não podemos com ela, porque fazemos dela a nossa prisão de cada dia que passa a se chamar solidão.

O fato é que, em casa novamente, aos 48 anos, não há amigos, aliás, não há gente que me tire desse não-saber-lidar-com-algo-que-não-me-ensinaram.

Do que me lembro, ninguém me ensinou a lidar comigo mesma, a lida era com o outro. Desde criança é a velha história: não brigue/ou/ cuidado com seu irmão (ou amigo ou inimigo ou primo ou vizinho); ou ame o próximo como a si mesmo. Ninguém diz pra você se amar como a ninguém mais no mundo ou pra brigar com todos menos consigo mesmo porque o que vai lhe restar ao final é somente você...e, então, ficamos tontos quando chegamos aos 48 anos e nos damos de cara com o mundo, estando sozinhos e tendo como companheiros apenas a palavra e a música (quando temos a sorte de alcançá-las em sua dimensão).

Ao contrário disso, diga-me: não era para qualquer pessoa sã estar feliz somente por poder, livremente, ler, ouvir música, sair e entrar quando quisesse, acordar aos finais de semana às 5 da tarde, dormir sozinha em uma cama enorme king size? Não, ninguém consegue se segurar com tanta liberdade; essa liberdade torna-se Solidão com S maiúsculo, daquelas que anseia pelo outro.

Ora bolas, eu bem que já desconfiava dessa fraqueza e impossibilidade humanas aos 16 anos, quando comentei, com uma sinceridade e espontaneidade contrangedora para o Luís, meu professor querido de História: - Professor, tenho pensado muito em você, acho que estou apaixonada...mas não gostaria de estar. – Não se preocupe, é natural esse tipo de paixão com sua idade, passa logo. Eu retruquei: - Não é isso, não é o estar apaixonada que me preocupa, é que eu não queria “precisar de você" pra me apaixonar.

sábado, 20 de fevereiro de 2010