domingo, 2 de agosto de 2009

RETRATO NA PAREDE

Alguém já passou três dias de cama, sem trabalhar, sem se alimentar, aos cuidados de Tia Lu, por amor?
Pois bem, eu já.

Tudo começou, à beira de uma piscina, numa festa com amigos comuns, ao permitir um trago do meu cigarro.

Tudo indicava que era uma paixão por afinidades, ele era filiado ao PCdoB, fingia gostar do que eu gostava, era charmoso, carismático e me deixei levar por esse sentimento que não sabia se se tratava de uma paixão, carência ou amor mesmo. Enlouqueci de amor -ou quase - por ele, de tal modo que o mundo poderia desabar sobre mim, mas se ele estivesse ao meu lado, tudo se tornava (de verdade!) maravilhoso.

Todavia, nada é assim de graça, e a tortura começou porque "o príncipe" não tinha nada de príncipe. Constatado isso, sofri muito, perdi minha dignidade, porque o amor não correspondido rouba rapidamente a tal dignidade e tudo o mais que dela advém, porque passamos a nos humilhar por qualquer migalha do outro.

E passamos a achar que temos a capacidade de alterar o outro, fazê-lo corresponder aos nossos sentimentos. E o coitado, óbvio, como é sabido desde sempre, não é obrigado a amar ninguém, por mais nobre que seja esse sentimento. É difícil entender, mas na vida é assim: as coisas acabam e ponto. O duro é compreender vivenciando a situação e, no meu caso (e de alguns outros milhares), a razão, temporariamente vinha, mas teimava em me abandonar nos momentos mais críticos.
Mas o tempo, ah! o tempo...................................................................o sol continua reinando, a terra continua redonda, a lua crescente continua linda, e, zap, já não somos o que éramos, e, adeus sofrimentos e amores não correspondidos.
Bom, o fato é que há cerca de um ano, reencontrei o moço numa festa, ele se aproximou, achando que talvez fosse Cristo e pudesse ressuscitar Lázaro e eu, educada que sou, disfarcei, conversei sobre amenidades, política (ele agora era filiado ao DEM!) e saí, com dois beijinhos e tudo.
Enfim, o sujeito não significava absolutamente nada mais pra mim, era apenas um sujeito a mais no mundo, ou, como diria Drummond, era apenas um retrato na parede da minha alma, porque os fatos ruins também são retratos, mas, diferente do poeta, o meu não doía mais.